sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

a posse dos deputados


Texto publicado no dia 02 de fevereiro nos veículos da Associação Paulista de Jornais
(sob o título Futuro da Câmara vira tema secundário em meio à festa “popular”) :

"Estendendo uma faixa pelo fim da imunidade parlamentar, como se fosse um manifestante comum, o deputado Paulo Rubem (PT-PE) esforçava-se por chamar a atenção para o futuro da Câmara, pouco antes do início da cerimônia de posse dos novos deputados. “É uma forma de chamar a atenção da sociedade para uma questão que o país precisa resolver”, declarou. Tarefa difícil. Diante da eleição para a presidência e da euforia dos novatos, o clima nesta quinta-feira no Salão Verde era de festa.

Com direito a celebridades eleitas – ou em trânsito. Clodovil Hernandes (PTC-SP) ganhou tantos flashes e perseguição dos repórteres como o candidato à reeleição Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Mas promoveu um burburinho bem maior (risos, sorrisos, comentários maldosos) entre os convidados à cerimônia – assessores parlamentares, mulheres arrumadíssimas, crianças e adolescentes curiosos em seus ternos e gravatas.

Dezenas de deputados tentaram levar seus parentes ao plenário, durante a posse, sem sucesso. O neto do deputado Moreira Mendes (PPS- RO), Enzo, destacava-se, do alto de seus 10 meses, embrulhado e engatinhando num mini-terno. Seu avô (o outro é o governador Ivo Cassol) garante que, “eleito com o compromisso de defesa da ética, da moralização”, lutará pelo voto aberto e pela modificação da imunidade parlamentar. “Na Assembléia em Rondônia todos fizeram o que fizeram, mas conseguem se proteger”.

Enrolado em serpentinas atiradas pela comunidade oriental, William Woo (PSDB-SP) também se declarou contra os privilégios. “Sou totalmente a favor do fim da imunidade no caso de crimes contra o povo”, disse, antes de entrar novamente no plenário, após a cerimônia, para autorizar fotos dos assessores nas cadeiras da Mesa. “A sociedade tem de exigir regime de urgência para esse tema e solicitar voto aberto”.

E a sociedade?


Relator no caso da primeira votação que decidiu pelo voto aberto, José Eduardo Cardozo (PT-SP) ressaltou – pouco antes do deputado cassado Roberto Jefferson andar pelo Salão e atrair bem mais atenção da mídia - a necessidade de pressão popular por mudanças. “Se a opinião publicar não pegar essa questão do voto aberto, não anda”, disse. No caso da imunidade, para ele o ponto é o foro privilegiado. “Se acabar com a imunidade e ele continuar, não muda nada. O Supremo não foi construído para processos desse tipo”.

A constatação de dificuldades na aprovação de temas da reforma política que democratizem os mandatos contrasta com as opiniões declaradas, de deputados de diversos matizes partidários, a favor das mudanças. “Tudo que é privilégio tem de ser tirado”, afirmou, entre vários convidados, Ricardo Izar (PTB), um dos parlamentares paulistas mais antigos, que se destacou como presidente da Comissão de Ética durante o que chama de “a pior legislatura da história”.

Quase todos os parlamentares falam a favor da imunidade, colocando em seguida a ressalva de que ela deve ser mantida no caso do direito à voz – ou seja, eles não podem ser punidos pelo que digam no exercício do mandato. Eunício Oliveira (PMDB-CE), mascando um chiclete, foi o único parlamentar ouvido a dizer já de início que era contra o fim da imunidade, antes de fazer a ressalva inversa. “Se perdermos direito a voz e voto vamos fazer o quê aqui?”

Democracia midiática

Depois de Clodovil e dos presidenciáveis (o tucano Gustavo Fruet, do Paraná, transpirou tanto durante o garimpo de votos que abdicou do paletó no Salão Verde), Frank Aguiar foi o mais assediado, diante de repórteres sorridentes. Para o ex-ministro das Comunicações Eunício, o destaque dado ao deputado-estilista e ao deputado-cantor (cujas eleições ele definiu como “fruto da democracia”) tem um responsável direto: “A culpa é de vocês, da mídia”.

No salão, um grupo de lobbistas de funcionários das agências reguladoras, com camisetas temáticas em belas mulheres, admitia: “É difícil disputar atenção com o Clodovil”. Enquanto isso, no plenário, quando mais nenhum deputado era encontrado no Salão Verde para dar declarações, dezenas de parentes e assessores ainda disputavam o cadeirão da presidência para um registro fotográfico da “festa da democracia”. "
Brasília, capital dos paparazzi.

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