terça-feira, 29 de maio de 2007

Renan e os R$ 100 mil

O presidente do Senado declarou ter doado R$ 100 mil para um "fundo de educação" destinado ao futuro da filha que tem com a jornalista Mônica Veloso. É um valor considerável. Pagaria, em tese, quatro anos de uma mensalidade de R$ 2.083 em uma faculdade particular.

De onde vieram os R$ 100 mil? É a pergunta que o Brasil agora faz.

Uma pena o mandato de um senador ser tão longo. Não fosse, e caso Renan Calheiros tivesse sido reeleito no ano passado, teríamos uma declaração de bens atualizada.

Na declaração de bens de 2002, José Renan Vasconcelos Calheiros enumerou:

- uma casa no Lago Sul, em Brasília;
- um apartamento em Ponta Verde, em Maceió;
- um apartamento em flat, em Brasília;
- um Toyota Hilux 2001 (um dos carros preferidos pelos parlamentares);
- um Mitsubish L.

Não há nenhuma menção sobre valores em banco ou outro tipo de aplicação.

Sim, o salário de senador permite a economia de R$ 2.083 durante quatro anos (e cinco meses). Mas vimos, por exemplo, que a pensão alimentícia à jornalista ultrapassou durante um bom tempo seu salário líquido como senador.

Aguardemos, portanto, explicações mais completas.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

De costas para os índios

507 anos depois, os índios continuam sendo escanteados. Nesta quarta-feira, 23 de maio, foi relançada no Congresso a Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Indígenas. Oficialmente, 170 deputados e senadores participam desse grupo. Na prática, porém, contavam-se nos dedos os presentes. Tanto os deputados que falaram como uma liderança indígena estimaram em dez o número de parlamentares que devem efetivamente abraçar a causa. A frente parlamentar mais conhecida do Congresso é a famosa bancada ruralista – exatamente uma conhecida opositora das aspirações dos índios por novos territórios. A frente parlamentar ambientalista, essa também foi criada há pouquíssimo tempo. Essas frentes nascem no vácuo dos partidos, que pouco têm, afinal, discutido programas ou afirmado teses, projetos de país. Mas são um instrumento democrático importante. Só que a nossa democracia é desigual. O único índio que tivemos no Congresso foi o cacique Juruna, nos anos 80. Ele era simplesmente humilhado pelos colegas. Seu antigo chefe de gabinete, um sertanista que hoje trabalha na Eletronorte, conta que cabiam nos dedos de uma mão os deputados que o tratavam com respeito. A eles agora cabe ser representado pelos brancos. Um representante da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia sintetizou bem o restabelecimento da Frente Parlamentar. “Muito bom ela ter sido recriada”, disse ele. “Mas não é uma motivação ter tão poucos parlamantares”. Brasília, capital do Brasil. Alceu Castilho, para a Netpress

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Justificando o injustificável

O líder do PSDB na Câmara, Antonio Carlos Pannunzio, comparou uma vez os deputados a uma turma de universitários: andam em bando, assinam a lista e muitas vezes vão embora, comportam-se de modo, digamos, pouco sisudo. Pois bem: dados levantados pela coluna vão ao encontro das observações do tucano. É que os deputados novatos, aqueles em primeira legislatura, são mais assíduos que os veteranos. Vejamos: entre os 70 deputados paulistas, metade pode ser considerada “novata”, e metade, “veterana”. Vamos deixar de fora da contagem o falecido deputado Enéas e seu sucessor. Desde que eles assumiram o cargo, em 1º de fevereiro, 34 deputados “novatos” faltaram 212 vezes em plenário – e 35 deputados veteranos, 251 vezes. Nas comissões temáticas, importantíssimas no dia-a-dia da Câmara, a diferença aumenta: os novatos faltaram 95 vezes. Os veteranos, 166. No caso das faltas em comissões sem justificativa, a diferença chega ao dobro: 65 faltas contra 128. E isso tudo, repito, sem as inúmeras faltas de Enéas, por motivos médicos. Por que isso tudo acontece talvez seja um assunto para sociólogos, cientistas políticos... mas também é um assunto para eleitores, pois não? A banalização das faltas no Congresso é um fenômeno que precisa ser observado pelos brasileiros. Vai o caro leitor faltar desse jeito no trabalho para ver o que acontece. Brasília, capital do Brasil. Alceu Castilho, para a Netpress.