sexta-feira, 16 de março de 2007

"Não somos bem recebidos em Brasília porque..."

Após cinco dias de acampamento no Eixo Monumental, centenas de ribeirinhos do São Francisco deixam hoje Brasília. Eles tentaram deixar seu recado. O índio Iapirá, da etnia kariri, estava revoltado na noite de quinta-feira com o pouco espaço para mostrarem sua voz. Na Câmara, diz ele, vários deputados falaram, contra e a favor da transposição do Velho Chico. Mas só um representante dos movimentos sociais teve direito à fala. Perguntei a ele se considerava ter sido bem recebido. A resposta:
“Nós não somos recebidos em Brasília porque:
Quando teve a marcha dos 500 anos, parte dos índios foi massacrada, em Porto Seguro. Nós não tivemos o direito de mostrar nossa resistência como brasileiros, nossa garra, nosso talento, nossa força de resistência.
Eu estava aqui em Brasília e fomos barrados na porta principal do Congresso Nacional. Foi índio arrebentado de cassetete e até chutado pelos militares que foram mandados pelo próprio governo federal.
Isto é, não podemos considerar que fomos bem recebidos. Se fôssemos um povo bem recebido, como estamos aqui para defender uma causa, do Rio São Francisco, não tinha necessidade de fazer um barraco, em frente a todos os ministérios. Pelo contrário, estamos é massacrados.”

quinta-feira, 15 de março de 2007

Um latifundiário no Ministério da Agricultura

O futuro ministro da Agricultura, deputado Odílio Balbinotti (PMDB-PR), é um dos reis da soja no Mato Grosso. Ele deve assumir nesta sexta-feira o cargo, conforme anúncio feito pelo presidente do PMDB, Michel Temer. À Justiça Eleitoral, ele declarou catorze fazendas por R$ 68,4 milhões. Todas ficam na região de Rondonópolis, onde ele é apontado como o maior produtor de semente de soja do País.

Balbinotti é dono de uma fortuna de R$ 123 milhões. Na Câmara, ele só possui menos bens que o deputado Camilo Cola (PMDB-ES), o dono da Viação Itapemirim. As catorze fazendas declaradas pelo deputado ocupam um total de 12.500 hectares. Confira a lista:

- fazenda Adriana, em Alto Garças – 1.952 hectares - R$ 20 milhões
- fazendas Seriema I e II, Alto Garças – 1.837 hectares - R$ 12,4 milhões
- fazenda Cachoeira Vermelha, em Guiratinga – 994 hectares - R$ 8 milhões
- fazenda Morro das Araras, Alto Garças – 940 hectares - R$ 7 milhões
- fazenda Pádua, Alto Garças – 2.486,04 hectares – R$ 5,5 milhões
- fazenda Cristo Rei, Alto Garças - 956 hectares - R$ 4,3 milhões
- fazenda Jurigue, em Pedra Preta – 1.243 hectares – R$ 3,1 milhões
- fazenda Lagoa Azul, Alto Garças – 313 hectares – R$ 3 milhões
- fazenda Bambu, Alto Garças – 212 hectares – R$ 2,1 milhões
- fazenda Adriana II, Alto Garças – 146 hectares – R$ 1,3 milhão
- fazenda Jurigue II, Pedra Preta - 398 hectares - R$ 1 milhão
- fazenda Reserva, Alto Garças - 1.000 hectares - R$ 450 mil
- fazenda Jurigue III, Pedra Preta - 79 hectares - R$ 200 mil


Veja a reportagem completa no site da Agência Repórter Social.

Reportagens publicadas em alguns veículos apontam Balbinotti como dono da empresa Sementes Adriana (nome de sua principal fazenda), administrada por Odílio Balbinotti Filho. A área de produção da empresa aparece ora com 26 mil hectares, ora com 29 mil hectares.

Brasília, capital do latifúndio.

PS: a posse do ministro foi adiada para quinta-feira.

terça-feira, 13 de março de 2007

Do Velho Chico a Brasília

Centenas de moradores da região do Rio São Francisco estão acampados em pleno canteiro central do Eixo Monumental, avenida de Brasília que desemboca na Esplanada dos Ministérios, Congresso e Palácio do Planalto. Eles fazem parte de movimento contrário à transposição e favorável a uma revitalização ampla do rio.

Em um país carente do exercício de cidadania, manifestações assim deveriam estar na primeira página dos jornais. A mesma imprensa que aponta as pontas do iceberg da violência deveria estar mais atenta aos clamores da sociedade organizada - que convive com os problemas sociais e ambientais em suas origens. Não se trata de concordar com as reivindicações, mas do dever cívico de divulgá-las.

Se o Brasil vive um conflito aberto entre civilização e barbárie, os 18 ônibus com defensores do Velho Chico, acampandos próximos da Torre de TV, representam a civilização. A dona Josefa da Guia (foto), parteira de mais de 5 mil numa comunidade quilombola, o Toinho Pescador, líder de seu segmento e poeta, o aposentado Antônio Jackson, organizador do primeiro museu sobre o Rio São Francisco, estão lá - e precisam ser ouvidos. Inclusive pela chefia do Executivo.

Uma verdadeira capital deveria ter bem mais presença popular. Quando o povo se desloca milhares de quilômetros, com todas as dificuldades, e se abriga em um sol implacável como o destes dias em Brasília, merece respeito. Não pode ser escanteado ou tratado como coadjuvante. Deve ser reverenciado, como protagonista maior da nação. Caso isso não aconteça, o grito acabará sendo ouvido de outras formas.

Brasília, sim - capital do Brasil.

segunda-feira, 12 de março de 2007

Farias na Comissão de Direitos Humanos?

O falecido deputado Gerônimo da Adefal (PFL-AL), portador de deficiência física, fazia parte da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.

Caso se confirme a posse de Augusto Farias (PTB), seu primeiro suplente, irá o irmão de PC ( preso em 2003 sob a acusação de promover trabalho escravo em sua fazenda no Pará) para a mesma comissão?

domingo, 11 de março de 2007

15 anos depois, eles estão de volta

Augusto Farias (PTB-AL) deve assumir esta semana como o mais "novo" deputado federal. Ele é o primeiro suplente de Gerônimo da Adefal (PFL), morto na madrugada deste domingo. Ironicamente, a coligação que elegeu o deputado chamava-se "Alagoas, Mudar para Crescer".

Mudar?

Para quem ainda não ligou o nome à pessoa, o advogado Augusto Cesar Cavalcante Farias é irmão de PC Farias, pivô da crise institucional de 1992. Foi investigado pela CPI do Narcotráfico e chegou a ser indiciado pela polícia de Alagaoas pela morte do próprio irmão. Também esteve preso sob a acusação de manter trabalho escravo em sua fazenda no Pará.

A alguns passos da Câmara, Augusto Farias poderá tomar cafezinho no Senado com outros personagens principais da era Collor: o próprio ex-presidente Fernando Collor (PTB), novato no Senado, e o já veterano Renan Calheiros (PMDB).

Brasília, capital da República de Alagoas.

terça-feira, 6 de março de 2007

O churrasco do "Boy" e a falta de memória

As eleições não podem ser esquecidas pela mídia. Estamos a apenas um mês da posse dos deputados. A quem mais, afinal, cabe martelar a idéia (ou informação) de que o sistema eleitoral tem distorções estruturais? O procurador Mario Luiz Bonsaglia, da Procuradoria Regional Eleitoral paulista, vai direto ao ponto ao afirmar que a legislação atual favorece o abuso do poder econômico. Portanto não podemos fazer de conta que é tudo tão legítimo assim.

Uma leitura das ações relativas a 12 deputados federais por São Paulo, todos em tese ameaçados de cassação, caso a Justiça concorde com Bonsaglia, mostra o tamanho do descalabro. O caso mais emblemático é o do redivivo Valdemar Costa Neto (PR), o Boy, flagrado pela repórter Fabiane Leite, da Folha, no ano passado, oferecendo churrasco para 1.400 pessoas e, em seguida, pedindo votos – acompanhado do prefeito de Bertioga, cidade litorânea vizinha à sua Mogi das Cruzes.

Mas há outros casos que mostram, no mínimo, o tamanho da distração dos nossos políticos – e de seus contadores. A novata Aline Corrêa (PP), por exemplo, filha do ex-deputado Pedro Corrêa, contratou pelo menos 100 pessoas sem qualquer tipo de prestação de contas. O deputado Mendes Thame (PSDB) diz que seu nome foi citado indevidamente em campanhas de deputados estaduais – mas o caso envolvendo o estadual Marcos Zerbini é grave, pois trata de utilização de funcionários públicos municipais na campanha.

A versão dos 12 deputados paulistas para as ações movidas por Bonsaglia está no site de alguns veículos da rede Associação Paulista de Jornais.

Brasília, capital da cara-de-pau.

domingo, 4 de março de 2007

Câmara Bilionária (XIII)

O procurador Mario Luiz Bonsaglia, piloto da Procuradoria Regional Eleitoral em São Paulo, concedeu a mim uma entrevista um tanto desencantada sobre abusos durante as eleições de 2006. Ela está publicada na edição de hoje de alguns veículos da rede Associação Paulista de Jornais. Ele fala dos deputados paulistas que estão com mandato sub judice, por conta de ações movidas pela Procuradoria, e repercute dados da série Câmara Bilionária. Para ele, a reforma eleitoral é tão importante quanto a reforma política. Confira uma das respostas:

Por que os candidatos podem doar mais de 10% do que possuem em bens, ao contrário das demais pessoas físicas? Há quem doe até mais do que possui, e dezenas de casos onde a doação é bem maior do que o disponível em bens circulantes...
B0nsaglia -
Essa é uma aberração. A única exigência feita é que estejam dentro do limite indicado quando da candidatura. Realmente causa espécie. A legislação eleitoral favorece várias formas de abuso de poder econômico. Nesses casos vale a quebra do sigilo bancário. A saída é o financiamento público, com punições severas para quem infringir essas regras. Não tenho ilusão: se tiver funcionamento público, haverá candidato que vai usar recursos públicos clandestinamente. Mas a intenção do MPF é acabar com a impunidade.

Brasília, capital da impunidade.

PS: o blog não foi atualizado durante a última semana por conta de uma conjuntivite renitente.