segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Marina: "Falta sustentabilidade política e ética"

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse durante sua fala no 2º Encontro Nacional dos Povos das Florestas, na semana passada, que os esforços por uma mudança no modelo de desenvolvimento esbarram no descumprimento, pelos países desenvolvidos, dos compromissos para redução da emissão de gases poluentes.

- As metas acertadas até 2.012 não estão sendo cumpridas. E já seriam insuficientes. A União Européia promete redução de 20%, mas seria necessária uma redução de 60%, só para estabilizar.

Para a ministra, porém, os países em desenvolvimento não podem reivindicar o direito de cometer os mesmos erros.

- Um dos maiores problemas que enfrentamos no mundo inteiro é a falta de sustentabilidade política e ética.

Ela cobrou os cidadãos, para que pressionem os políticos pela aprovação e efetivação de leis.

- Levamos 15 anos para aprovar (em 2006) lei que preserva os 7% que restam da Mata Atlântica. Poderíamos culpar os deputados e senadores. Mas se pressionássemos desde a base, os prefeitos, os vereadores, levaria 15 anos? Certamente não.

Marina considera que os povos da floresta estão longe de conquistar o que historicamente merecem. Mas que saíram da invisibilidade. Egressa dos seringais, ela disse acreditar em uma inflexão no processo civilizatório.

- Os princípios são os mesmos (do 1º Encontro Nacional, em 1989), mas os objetivos foram ampliados. Agora estamos (os povos da floresta) envolvidos em coisa de gente grande, como as mudanças climáticas.

Nesse momento a ministra se corrigiu: “Ou pequena, porque foi a nossa pequenez que destruiu nosso planeta”.

- Muitos países são potências bélicas. Alguns são potências econômicas. Nós somos uma potência ambiental. Se quisermos ser potência econômica, temos de seguir sendo potência ambiental.

A ministra admitiu que a estrutura e os meios no Ministério do Meio Ambiente são ainda “insuficientes”. Mas exaltou as ações feitas contra o desmatamento, ou na demarcação de 10 milhões de hectares em terras indígenas. “É apenas o começo”, afirmou.

Segundo ela, o desmatamento caiu 50% por conta de “medidas de força”. Ela estima que em 2007 ele deve cair para a cifra de 9.600 quilômetros quadrados.

Sobre biocombustíveis, Marina disse que o Brasil precisa adotar “outra narrativa”, que respeite o meio ambiente e os trabalhadores.

- Não temos de ser uma Arábia Saudita, uma Opep dos biocombustíveis. Temos de fazer que eles sejam trabalhados na África, na Ásia, no Caribe.

Reportagem publicada no site da Agência Repórter Social.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Cadê o Jobim do trabalho infantil?

É um assunto mais importante do que os malabarismos orçamentários do senador Renan Calheiros ou a crise aérea. Mas pouca gente dá atenção. A quantidade de 5 milhões de crianças e adolescentes trabalhando em 2006, número próximo da população da cidade do Rio de Janeiro, deveria ser encarada como um escândalo nacional. Sociedade e governo, no entanto, parecem estar acostumados. A exploração sistemática de brasileiros inocentes e pobres é tomada como um mero detalhe.

Eu disse 5 milhões de crianças e adolescentes trabalhando? Não, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada na sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que são 5,1 milhões. Deixei os 100 mil de fora de propósito – pois essa quantidade já seria inaceitável em qualquer país. Os 5 milhões de crianças e adolescentes explorados no Brasil – por pais, empresários, comerciantes, fazendeiros, mafiosos do mercado informal – estão além do inaceitável.

A variação da porcentagem de explorados nos últimos anos mostra que, em pleno governo Lula, aquele que prometeu nada menos que a er-ra-di-ca-ção do trabalho infantil, pouco mudou. Em 2001, o índice era de 12,7%. Variou para 12,6% em 2002, 11,7% em 2003, 11,4% em 2005, 11,8% em 2005 (um aumento) e 11,1% em 2006. Com um agravante: essa pesquisa mostra o que os pais declararam. Suponhamos que alguns pais tenham preferido dizer que os filhos não participaram da renda familiar – será esta uma hipótese improvável?

E por falar em renda familiar, a mesma pesquisa do IBGE que divulgou o descalabro do trabalho infantil mostra que a renda do trabalhador subiu 7,2% em 2006 (e que é possível dar saltos estatísticos). Foi o melhor resultado em 11 anos. O aumento foi maior entre os trabalhadores pobres das regiões Norte e Nordeste. Justamente dois pólos do trabalho infantil. Ou seja: cruzando minimamente os dados, temos que um dos índices que mais se prestam à comemoração na Pnad teve seu edifício erigido também por mãos infantis.

Mãos infantis e negras. Os dados da Pnad mostram que 59,1% das crianças que trabalham são pretas e pardas - acima da média nacional (49,5%). Isto a quase 120 anos da abolição da escravatura. Os meninos compõem 64,4% do universo de explorados. A atividade agrícola, no país do agronegócio, responde por 41,14% dos trabalhadores mirins. Eles trabalham em média 20 horas por dia. Na última semana de setembro, quando os pesquisadores fizeram o último levantamento, estavam trabalhando 237 mil crianças entre 5 e 9 anos. Vou repetir: entre 5 e 9 anos.

Leia o artigo completo no site da Agência Repórter Social.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Com o Renan no Senado...

... que o país inteiro feche agora para balanço.

A República não se resume a estes senhores. Eles não merecem que fiquemos em estado de choque (sem trocadilhos com o aparato usado pelos seguranças durante a briga...).

Tomemos a absolvição infame como uma motivação para valorizar outras vias de manifestação da cidadania. As ruas, os movimentos sociais, os sindicatos... expressões menos míopes e viciadas de uma sociedade que, ao contrário de Calheiros, é dinâmica e sabe tomar outro rumo quando lhe é instada.

"Quem manda é o setor da terra"

O deputado Carlos Santana (PT-RJ) fez um discurso indignado nesta terça-feira, durante audiência pública para debater a regularização das terras quilombolas. Negro, ele disse que a luta pela aprovação do projeto enviado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva é “injusta”, pois no Brasil se pode discutir tudo, “menos raça”.

- Aqui não tem 20 deputados que se assumem como negros.

Segundo ele, há cinco projetos sobre questão racial parados na casa. Um deles trata de indenização para o marinheiro João Cândido. “Votamos a indenização para o Lamarca. Ótimo, ele saiu como general. Mas o João Cândido, até agora, saiu como marginal.

Santana, egresso do movimento sindical, disse que isso só será revertido de uma forma: “Quando colocarmos a massa no meio da rua”.

- A elite branca deste país deve a nós. No dia em que tiver a massa, vamos votar. O parlamento reflete a hipocrisia da sociedade brasileira. Nesta Casa quem manda é a terra. Em qualquer votação tem de negociar com o setor da terra.

O discurso do deputado foi criticado por representantes da bancada ruralista, como Valdir Colatto (PMDB-SC) e João Almeida (PSDB-BA). Para eles, Santana está querendo o “conflito”. “Somos todos irmãos”, afirmou Colatto. “Santana prega a luta racial”.

Almeida disse que não é papel do Estado gerar conflitos, mas mediá-los. “Não gosto do decreto, e ouço discursos que vão além do decreto. Estava preocupado e agora fiquei um pouco mais”.

Texto publicado no site da Agência Repórter Social , que traz mais informações sobre quilombolas.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Memórias de Corumbiara

Texto sobre as vítimas de Corumbiara conforme publicado no jornal "O Imparcial", de Presidente Prudente:

"Ana Paula Gomes tinha 5 anos no dia do massacre de Corumbiara, em Rondônia. Quando os policiais e jagunços entraram no barraco onde estava assentada, sua mãe estava por cima dela e do irmão Marcos, para tentar protegê-la – oficialmente, 16 pessoas morreram naquele dia, na Fazenda Santa Elina. Mas o jagunço mandou Maria das Graças Gomes levantar e lhe deu uma paulada. Ao apanhar a faca, um policial disse que não era para matar. As crianças começaram a chorar.

Doze anos depois, Maria das Graças contou a Ana que iria para Brasília, acampar na Esplanada dos Ministérios para pedir indenização por aquela sessão de tortura – o marido, Geraldo Gomes do Nascimento, teve o braço cortado (mas não amputado) por uma moto-serra. Ana Paula, a única entre os quatro que trabalha na família, acumulando os estudos com as atividades de empregada doméstica, virou-se para a mãe como se estivesse em agosto de 1995: “Mãe, não vai. Vai ter conflito”.

Não houve. Os sem-terra ficaram 20 dias em frente do Congresso, ao lado do Ministério da Justiça, para serem recebidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para cobrar a promessa feita dias depois do massacre, a de que quando chegasse ao poder daria terra e indenização a todos. Não foram recebidos por Lula, mas, cansados diante do sol e da baixa umidade de Brasília, contentaram-se com compromissos firmados – seis ao todo – na semana passada por seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho.

Deixaram ali histórias de um trauma. Os sem-terra revivem diariamente as cenas das agressões e execuções sumárias – que na época despertaram comentários indignados do próprio presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. Geraldo, o pai de Ana, foi um dos que acudiram a menina Vanessa, de 7 anos. Ela levou um tiro nas costas e morreu. Uma das versões dá conta de que ela teria se recusado a pisar no corpo dos companheiros.

Hoje, Vanessa Santos dá nome a um assentamento na região. Diante da reação na época, nacional e internacional, 600 famílias foram assentadas. Os principais são o Vanessa e o Santa Catarina. José Carlos Gonçalves dos Santos, hoje com 28 anos, mora no Santa Catarina. Tinha 15 anos, mas foi torturado junto com os adultos. “Vocês queriam terra?”, perguntavam os policiais. “Então agora tomem terra!” Ele foi obrigado a carregar um senhor que levara um tiro no pé. Não conseguiu. Apanhou. Aí levaram o colega numa rede. Chegando à cidade, todos apanharam novamente.

Tortura diária Uma das histórias mais contadas pelos sem-terra é a dos dois homens que foram obrigados a comer os miolos do cérebro de dois companheiros assassinados. Eram o Natalino e o José Birrinho – apelido herdado de um jogo de sinuca. Hoje José Birrinho é citado por eles como o “José Miolo”. Eles contam de várias pessoas que desatinaram. Fora as que desapareceram. Pelos relatos dos sobreviventes, muito mais gente sumiu ou morreu. Mas eles não sabem quantos. Dizem que, entre as milhares de pessoas presentes no dia da reintegração de posse, muitas fugiram para nunca mais voltar.

Naquele 09 de agosto, os sem-terra foram obrigados a ficar deitados durante horas na Fazenda Santa Elina, desde o início da manhã até as cinco da tarde. Eram pisados, e alguns, sumariamente executados. “Pegavam os próprios cabos de foice para bater na gente”, conta Claudinei Silva Ribeiro, de 31 anos. Ele teve a clavícula quebrada por uma cacetada – não pode mais pegar peso, trabalha como motorista. Sentado na Praça dos Três Poderes, diante do Palácio Alvorada, ele tentou reproduzir a posição em que tiveram de ficar. Não conseguiu: chorou durante vários minutos.

O pedido de indenização percorre os relatos de todos os entrevistados. “Até hoje não posso caminhar direito, por causa dos pontapés na cabeça”, afirma Alfredo Francisco do Nascimento, de 62 anos. Até um coice ele levou. Foi proibido pelos médicos de trabalhar, mas não recebe aposentadoria. Vilmar Alves da Silva, de 51 anos, ficou com um peito “levantado”, após os golpes nas costas. Ele foi um dos que falaram com Lula, no hospital. O então presidente de honra do PT prometeu que, quando fosse presidente, a Fazenda Santa Elina nunca mais ficaria com um fazendeiro.

João de Melo Sobrinho, de 62 anos, viu o filho Vilmar, hoje com 33 anos, ficar louco após ser torturado, com o fio de moto-serra amarrado no pescoço. “Era um rapaz caprichoso, fazia tudo bem certinho. Desse ponto em diante, tudo dá problema nele, qualquer coisa que põe na mão dele ele solta, para arrebentar”. É uma imagem que sintetiza a impaciência dos sem-terra de Corumbiara, sem indenização doze anos depois: é como se algo entre eles estivesse sempre para arrebentar novamente: os ossos, uma explosão de choro, o desespero. A memória, essa resiste.

“Tem hora que a cabeça da gente está tão torturada”, diz Rosimeire Gatti, de 30 anos, uma das que estenderam faixas em frente do Palácio do Planalto. Aos 17 anos ela serviu de escudo humano para os policiais, viu um companheiro ter a cabeça aberta com uma moto-serra e dois colegas serem mortos. “É um sentimento tão grande do que a gente viu, os companheiros sendo mortos na nossa frente, mulheres grávidas sendo espancadas... Vieram policiais pedir para a gente tirar as faixas. Eu disse que só se tivesse outro massacre”."

sábado, 1 de setembro de 2007

Crônicas Brasileiras - I

A criança que não sorria

O desembargador Antonio Carlos Malheiros utilizou boa parte do seu tempo, durante o Seminário Nacional do Movimento Nacional de Direitos Humanos, em Brasília, para motivar os militantes presentes. Falou do trabalho de conscientização dos jovens “e arrogantes” juízes em São Paulo, de sua história na Comissão de Justiça e Paz (decisiva no combate à ditadura), e contou um pouco do seu trabalho como voluntário em hospitais paulistas, quando invoca um lado palhaço para contar histórias às crianças.

Num desses dias, ficou sabendo de um caso de um menino com o rosto desfigurado. Uma criança “sem rosto”, como definiu. O pai do menino assassinara sua mãe e tocara fogo no barraco. As seqüelas estão sendo combatidas no Pavilhão dos Queimados do Hospital Emílio Ribas.

Era uma véspera de Natal e Malheiros decidiu fazer o que sempre faz nessas situações: dirigiu-se ao leito do menino para contar histórias.

Começou a contar. Nenhuma reação.

Insistiu. Ficou parte da tarde contando histórias. Mas o menino não reagia.

Malheiros pensou: “Puxa, estou perdendo meu tempo aqui. Poderia estar com meus filhos, numa véspera de Natal, mas estou contando histórias para uma criança que não reage”.

Mas insistiu novamente, por mais um tempo. Depois foi fazer outras coisas no pavilhão e encaminhou-se para ir embora. Nesse momento, percebeu um puxão no jaleco.

- Tio...

Era ele: o menino sem rosto.

O desembargador ficou surpreso e perguntou o que ele tinha a dizer.

Até hoje ouve a resposta.

- Pode não parecer, mas estou sorrindo...

(textos publicados no site da Agência Repórter Social)

Crônicas Brasileiras - II

Matilde Ribeiro e a homenagem à mulher centenária

A ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria de Promoção à Igualdade Racial, lembrou durante um painel de debates na Marcha das Margaridas, em Brasília, um caso que considera emblemático em relação ao protagonismo feminino – e negro – no Brasil. È o de Maria do Carmo Jerônimo, uma ex-escrava que morreu aos 129 anos, em 2000, e chegou a ser considerada “a mulher mais velha do mundo”.

Matilde lembrou que os movimentos sociais de Itajubá (MG) apresentaram à Câmara do município um projeto para que ela recebesse o título de cidadã itajubense.

- Eram 11 vereadores. Nove votaram contra.

Segundo a ministra, eles fizeram as seguintes alegações:

- Quem era ela? Tinha escrito algum livro?

Não, responde a própria ministra, anos depois. Ela era analfabeta.

- Era alguma cientista, para merecer tamanha homenagem?

Não, expõe Matilde Ribeiro. Ela era uma empregada doméstica. Começou a trabalhar com 75 anos na casa onde morreria, 54 anos depois.

- Era alguma personalidade no município?

Não exatamente, pensa a ministra, no que se refere às pessoas da alta sociedade. Maria do Carmo Jerônimo viveu durante 17 anos na escravidão.

- O que aconteceu, anos depois – concluiu Matilde, antes dos aplausos do público formado por camponesas de todo o País -, foi que, em São Paulo, Maria do Carmo recebeu o título de Cidadã Paulistana. Com toda a pompa que merecia.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

2009 deve ter Congresso de Anistiados

Luiz Eduardo Greenhalg fez um discurso histórico nesta quinta-feira, na Câmara dos Deputados.

De volta à casa pela primeira vez desde 1º de fevereiro, quando deixou de ser deputado, ele foi um dos últimos a falar durante o 1º Seminário Nacional dos Anistiados e Anistiandos do Brasil. Criticou os governos de um modo geral. Disse que Lula está perdendo a chance de entrar para a história como um estadista, abrindo os arquivos da ditadura. E propôs a realização de um Congresso que se proponha a contar uma história que os governos estão sonegando.

Advogado de presos políticos, Greenhalg propôs ainda a realização de um congresso paralelo a esse de ex-presos políticos, que reúna os advogados especificamente para que eles levem o material de seus clientes e contribuam para esse resgate histórico. Uma reunião no dia 13 de setembro deve definir o cronograma para os dois congressos, inclusive o mês em que será realizado o evento de protesto – e em comemoração aos 30 anos da Anistia no Brasil.

O ex-deputado petista começou falando do movimento Cansei.

- Independente dos objetivos do movimento, se tem alguém que tinha direito de dizer “cansei”, ou “cansamos”, são os anistiados brasileiros que desde 1979 vêm atrás da reparação. Mas os lutadores do povo não se cansam.

Ele criticou os “torturadores do Doi-Codi” que “vivem tentando lançar ignonímias, calúnias, difamações, sem colocar a cara na frente”. “Fazem como nos outros tempos, no Doi-Codi, onde as pessoas eram encapuzadas. Fazem ostentando nomes fictícios”.

- Estamos há quase 30 anos e não resolvemos a questão dos desaparecidos, dos mortos e dos anistiados. Os governos – todos -, os de hoje e os de ontem, os magistrados – todos, do Supremo e da Justiça de um modo geral têm que entender que a verdade e a justiça não podem ser retardadas.

Sob aplausos, Greenhalg seguiu com a voz embargada, com sua oratória de advogado aparentemente afetada, de fato, pelo envolvimento com a causa:- Não vai acabar a luta pela abertura dos arquivos. Tem decisão judicial mandando abrir os arquivos do Araguaia, e não se abre. (Ergue a voz.)

- O governo que quiser se inscrever indelevelmente na história do Brasil deve fazer uma força e abrir os arquivos, para que a gente saiba a verdade. “Ah, não está na pauta, Greenhalg”, é o que me dizem.

- Cadê os corpos dos desaparecidos? Quem os matou?O tom do advogado foi ficando cada vez mais emocionado.- Não adianta esconder os torturadores. Não adianta mandar para embaixadas de outros países. Sabemos o que eles fizeram conosco. Com nossos companheiros, com nossos filhos, com nossas mulheres.

- Não é vingança. Isto é justiça, isto é verdade, é compromisso de todos nós.

Após aplausos e uma pausa, Greenhalg retomou o discurso.

- Nosso coração é cheio de mágoas. Precisamos de quatro leis de anistia, e nenhuma delas foi cumprida integralmente. Mas não nos cansamos. Tenho mágoas – pelo que as calúnias veiculam na internet sobre mim. E fez a proposta histórica:

- 2009. Vamos marcar esssa data como limite máximo para abrirem os arquivos. Se não abrirem, vamos fazer um congresso nacional de todos os presos na ditadura. Vamos reconstruir a história, e fazer o nosso arquivo da verdade.

- Vamos também fazer o congresso dos advogados dos presos políticos, e abrir esses arquivos dos advogados, que são uma parte da verdade que querem ocultar.- Este seminário é um embrião do congresso de 2009. Com calma. Vamos nos juntar. Uma coisa que sempre atrapalhou foi a diferença entre nós. Temos que ter unidade para enfrentar os torturadores, o subterrâneo, os porões.

(publicado no site da Agência Repórter Social)

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Os olhos do Chico (4)


4) TOINHO PESCADOR

Aos 75 anos, Toinho Pescador fala do Velho Chico com lágrimas.

Ele começou a pescar com 12 anos. Primeiro, mandi, piau, piranha. Depois, muito surubim, pirá, tubarana. “Nessa época o rio não tinha barragem, e tinha muito peixe, camarão, pitu, em grande quantidade. Pescador profissional pegava 30, 50 quilos por dia. O maior peixe que peguei foi 45, 50 quilos. O último deu 32 quilos e meio, em 1994. O último surubim está com 12 anos. Tristeza”.

Suas histórias de pescador ganharam contornos trágicos na medida em que foram sendo construídas as barragens – Paulo Afonso, Itaparica, Xingó. “Ficamos 12 anos sem cheia. E hoje é uma cheia improdutiva, porque vem com água morta.”

Antonio Gomes dos Santos é vice-presidente da Federação dos Pescadores de Alagoas e titular do Comitê Hidrográfico da Bacia do Rio São Francisco. É de Penedo. Fundou o movimento “Filhos do Velho Chico”. “A gente luta em defesa do rio, reivindica, pesquisa, denuncia”. E arrisca seus poemas, como o longo “São Francisco, nosso pai”:

“Há 30 anos atrás/ O nosso rio era assim/ passarinhos cantavam alegres/ não tinha veneno aqui/ Também não tinha barragem/ Era bom viver assim”

Segundo Toinho, a maioria das espécies de peixe desapareceu. “Surubim, mandim, corvina, pira são peixes de piracema – e não tem mais piracema” Os animais foram indo embora na medida em que se multiplicaram as plantações de cana-de-açúcar – e as queimadas.

“Era lindo se apreciar/ Cupim, formiga, grilos e ratos/ Nas águas começava a boiar/ Tornando-se alimentos/ Para os peixes engordar/ Quem ganhava era a população/ Tanto dos peixes e das aves/ Como de nós cidadãos”.

Ele teve nove filhos e adotou mais dois. “Todos foram criados à custa de pescaria do São Francisco. Hoje meu filho tem uma menina e com a renda da pescaria não tem condição de criá-la, pede nossa ajuda”.

“Hoje a coisa já mudou/ Do melhor para o ruim/ Quem são os culpados disso? Já deu para refletir/ Quando, por causa do medo/ Deixaram acontecer assim/ Fecharam quase todas as várzeas/ Barragem foi por demais/ Acabou-se a produção de peixes/ Já se foram os animais”.

O pescador, que estudou até o quarto ano primário, defende um estudo sobre as barragens. Conta que nunca um pescador foi indenizado por conta dos prejuízos causados ao seu trabalho. “Mas não queremos indenização, queremos que o rio se recupere, que volte a ter peixe de piracema”.

Toinho conta que as lagoas que se formavam tinham tanto peixe que as mulheres pescavam com o pé. “Levavam para fazer com o arroz. Ou comiam marreco. Hoje não tem mais isso. Não tem mais nem lugar para plantar.”

“Acabou-se a produção de peixes/ Já se foram os animais/ Agrotóxico mata os passarinho/ Saúde não existe mais/ E o rio? Que era rico/ Hoje está para morrer/ Clamando pelo nosso amor/ Pedindo para viver”.

Mas ele não desiste. “Nossa luta é essa”, diz, erguendo os olhos marejados. “Não vamos nos entregar”.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Os olhos do Chico (3)


3) O ÍNDIO

Iapirá tem o olhar duro. É um índio kiriri, que foi parar no Rio São Francisco exatamente em busca de água. São 32 famílias, cerca de 130 pessoas. Antes moravam a 200 quilômetros de Paulo Afonso (BA). “Como a gente sentiu dificuldade de trabalho, arrumar o pão de cada dia, teve de sair para um lugar melhor, para sobreviver, ter um ponto com menos sofrimentos para dar de comer à família”.

Ele tem veia poética, cara à tradição indígena. Para falar do rio, compara a água ao nosso sangue. “Se cortar uma veia nossa e deixar aquela veinha ir esgotando, uma gotinha por hora, uma hora vamos morrer. A mesma coisa é o rio. Tem gente perguntando para quê tanta água ir para o mar, que é uma água perdida. Mas a gente tem conhecimento de que assim o rio vai morrer”.

Seu nome no registro de nossa civilização é Carlos Cristóvão Batista. Ele tem um convite a cada um que queira entender melhor o que acontece no Velho Chico: atravessá-lo.

“Não de avião, não de helicóptero, não de barco a motor”, explica. “De barco a remo. Venha de Aracaju até a Serra da Canastra, para ver se passa. Não passa. Hoje ele está cheio, porque Deus mandou a Divina Misericórdia para ele encher e compor suas obras de natureza. Mas tem tempo que você atravessa pisando na areia do fundo do rio. Esta é a verdadeira história, e como é que dizem que tem água sobrando?”

Iapirá fala com dor. Diz que as comunidades indígenas sentem no próprio corpo as agressões ambientais. “A gente sente como se tivesse sendo massacrado pelo governo, como estamos. Se ele está tirando a vida do rio, não está tirando a vida do rio, e sim a vida de vários seres humanos. A gente fala com segurança e com tanta dor que o próprio governo está matando o povo dele, e com as próprias mãos”.

Iapirá fala também com raiva. É seu cotidiano de plantio e pesca que julga ameaçado. E essa raiva é histórica – sem a lógica da diplomacia cara-pálida. “Não é só o fazendeiro que massacra o rio, mas também o povo da cidade, que faz um canal de esgoto para jogar toda a sujeira dentro do rio”. Ele cita o exemplo dos animais mortos nas fazendas, que em vez de serem enterrados ou queimados vão parar no Velho Chico – afetando quem usa a água mais abaixo “para beber, para lavar, para cozinhar”.

E fala também da raiva. “Se viesse um elemento lá de fora, entrasse dentro de sua casa, e cortasse um braço de sua mãe, de seu pai, ia ficar satisfeito?”, pergunta – com a voz mais aguda, emocionado. “A mesma coisa é estarem exterminando e cortando o rio. Para matar, para morrer o rio, essas são as intenções desse povo branco, que aí está com essa ganância, esse orgulho, esse poder econômico. Por isso que falo com raiva, porque está matando o pai e a mãe desse povo que mora na beira do rio.”


quarta-feira, 18 de julho de 2007

Os olhos do Chico (2)


2) A PARTEIRA

O olhar dela é cheio de vida. Realizou nada menos que 5 mil partos, na região da Serra da Guia, no Sergipe. “Casei com 12 anos e três meses. Os meus são oito, mas criei 18 filhos dos outros. As mães não querem criar, queriam remédio para matar. Nunca aceitei essas coisas, aí crio. Hoje só tenho um solteiro em casa. Netos, tenho 36”.

A comunidade quilombola de Josefa Maria da Silva, a Josefa da Guia, fica no município de Poço Redondo, a alguns quilômetros do rio. Ela chegou a ser homenageada pela Assembléia sergipana. Ficou feliz. “Faço partos desde os 11 anos”, conta. “No primeiro a mãe estava bêbada. Fiz tudo e depois acostumei, com muita vontade. Minha mãe era parteira de muitos anos, minha avó também. Peguei uma herança.”

Por motivos de saúde, os membros da comunidade tomam água levada com caminhão-pipa. “A gente quer consumir a água, um rio de qualidade, sem sujeira”, reclama.

A mãe de Zefa da Guia contava que no “fim das eras” todos iam beber água de cacimba. Que não ia ter água para usar. “Os mais velhos já diziam, por palavras do padre Ciço, dos patriarcas, dos conselheiros. Não era uma adivinhação. E eu acho que está acontecendo. Ela dizia: no fim das eras a gente vai ter pouca influência sobre o rio, a lavoura e as florestas iam ser destruídas, tudo ia se acabar. Ela morreu com 98 anos”.

Líder da comunidade, ela comanda as rezas na Serra da Guia. Tem 2.708 afilhados, só na Igreja. “Todas as noites tô arreunino o pessoal e vamos rezar. Pedir à Santíssima Maria e ao pai que está no céu – e construir um mundo de alegria e felicidade”.

Zefa não gosta de comer peixe nem nadar. Enquanto fala, mostra a água batendo na canela: seus limites. “O rio acho ele muito bom. Dá muita renda para quem mora perto – para sobreviver as famílias. Quero muito que o povo pesque. Se veve só de carvão, de pedra, como vai viver?”

Os sogros foram escravos. Onde mora tem um Cemitério dos Escravos, com mais de 1.500 corpos. “Quando escravos, plantavam mandioca, usavam palmito, batata-do-mato, frutas do mato, xique-xique, para sobreviver os filhos. Quando fugiram, não tinham nada”.

Do desejo de liberdade ela herdou aversão aos fazendeiros. Ela os chama de “tubarão”. “Tem tanta gente que quer ser rico e não é... rico, só Deus. Esses tubarão se julgam de qualidade. Demora demais para a gente ter terra para trabalhar. Se eu sou peixinho? Não, eu sou peixão.”

Ela diz não ter revolta ou mágoa. Mas depende das cestas básicas entregues pelo governo. “Os home têm que fazer chegar. O governo é que vai chegar, abaixo de Deus.” Além de ser parteira, ela cozinha. Costuma fazer pirão de capoeira. “O que botarem eu faço tudo”.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Os olhos do Chico (1)



Escrevi para os diários da APJ quatro perfis de moradores da região do Rio São Francisco. Seus olhares, suas histórias. Confira:

1) O AMBIENTALISTA

O olhar dele é de esperança. Quando era criança, em Igreja Nova (AL), o rio desafiava os 40 quilômetros de distância e chegava até a porta de sua casa, na cheia. “Nadava e pescava no meu quintal”, conta Antônio Jackson Borges Lima, pequeno produtor rural e ambientalista. “Aprendi a nadar num pedaço de mulunga, uma madeira leve, tipo isopor”. A água chegava a 3 metros de profundidade. Algumas crianças morriam, e ele no início tinha de ficar preso em casa, entre outubro e março, para não morrer afogado.


As preocupações mudaram. Antes de falarem em transposição, Lima já se preocupava com o assoreamento. Hoje ele mora em Traipu, na margem alagoana do rio, onde coordena o primeiro e único museu sobre o Velho Chico. Ali ele coleciona objetos que contam a história dos moradores da região – como um moedor de café da Serra da Canastra, um liquidificador à corda, uma máquina de lavar de madeira. E registra a história da navegação no rio, das canoas aos vapores.


No Museu Ambiental Casa do Velho Chico as crianças aprendem a respeitar o mais Velho. Informam-se sobre queimadas, esgotos, garimpagem, agrotóxicos, irrigação. No sítio de 20 tarefas (ou 6 hectares), Lima planta árvores – somente pau-brasil, são dez. É um esforço de preservação da história, mas também de renovação. “Temos 504 municípios na região, todos jogando esgoto no rio”, diz o ambientalista.

O amor pelo rio nasceu da água no quintal e foi consolidado durante toda sua vida profissional. “Tive 32 férias, todas navegando no Baixo São Francisco”, conta Lima, um fiel apaixonado. Ele era funcionário do Banco do Nordeste e trabalhou em várias agências na beira do rio: em Pão de Açúcar e Penedo (AL), Gararu, Neópolis e Ilha das Flores (SE).

“Casei com moça de Traipu, tinha esse sitiozinho na beira do rio, aí construí o museu.” Museu e biblioteca. “Idéia é construir um auditório, para 50 pessoas, um barco-escola e um caminhão-baú, um caminhão itinerante”.

Durante as férias o ambientalista viu duas coisas: pobreza e ausência de projetos. Cita o caso de um assentamento na beira do rio, em Traipu, com 120 famílias. “Eles têm todas as condições: água, energia, gente, terra”, enumera. “Mas falta projeto, apoio técnico e financeiro. Alagoas praticamente não tem projeto na minha margem do rio”.

Ele lembra que, antes da barragem de Sobradinho, o São Francisco produzia muito arroz e peixe. Agora, a expectativa é a de uma grande cheia em 2009. A maior que ele viu foi em 1979, e a cada 20 anos tem uma. “Se o efeito estufa não interferir”, diz.

A fala de Lima alterna melancolia à necessidade de resistência. “As espécies de peixe desapareceram. Tem jovem de 19 anos que não conhece o surubim. A tubarana (dourado) está em processo de extinção”, observa. “Lá no museu tem três meses que um pescador conseguiu uma tubarana de 16 quilos. Está lá, embalsamada, para as pessoas conhecerem”.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Crianças: prioridade orçamentária?

A Andi promoveu ontem a cerimônia de titulação dos 20 novos Jornalistas Amigos da Criança. Estou muito feliz por estar entre os escolhidos. Há quem tenha batalhado duro para ganhar essa homenagem. Segue a reportagem publicada no site da Agência Repórter Social:

"Representantes de duas organizações preocupadas com a cobertura jornalística dos temas infância e adolescência cobraram nesta quinta-feira em Brasília mais atenção às questões orçamentárias. A preocupação apareceu tanto na fala do representante adjunto do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Manuel Rojas Buvinich, como na de Âmbar de Barros, conselheira e uma das fundadoras da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi).

A cerimônia premiou mais 20 Jornalistas Amigos da Criança, escolhidos pela Andi em 13 Estados brasileiros. No total, são agora 346 jornalistas premiados desde 1997, por seu comprometimento com os temas da área social, em especial aqueles relacionados à infância e adolescência.

“Um dos desafios aos Jornalistas Amigos da Criança é acompanhar o orçamento”, afirmou Buvinich. Ele disse que deve se chegar a uma cultura de acompanhamento orçamentário que questione os resultados das políticas públicas para a área da infância. “E a partir daí exigir dos políticos”, adicionou.

Buvinich também reivindicou dos jornalistas mais acompanhamento do desenrolar das denúncias. Citou o exemplo de casos de exploração sexual infanto-juvenil para observar que, muitas vezes, as reportagens são feitas de modo muito solto. “Denunciamos a situação de violação de direitos, vêm as declarações, mas não há continuidade”, afirmou. “Se houve violação, qual a política, qual sua sustentabilidade, qual o impacto?”

Âmbar de Barros, que começa nesta segunda-feira a trabalhar na TV Cultura, em São Paulo, criticou a atual formação dos jovens jornalistas para ressaltar a responsabilidade formativa dos Jornalistas Amigos da Criança, em suas redações. Ela concordou com as proposições de Buvinich. “O político prometeu, o projeto foi aprovado, quanto custou isso? E é preciso acompanhar o orçamento executado, nossos orçamentos muitas vezes são fictícios, botam lá o investimento e não liberam os recursos”.

Para auxiliar os profissionais nessa cobertura orçamentária, o evento teve uma oficina com Gil Castello Branco, da ONG Contas Abertas, com dicas de pautas a partir dos dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi).

Jacqueline Lopes, repórter do jornal O Estado do Mato Grosso do Sul, fez o discurso mais emocionado entre os 20 jornalistas premiados. Ela chorou ao lembrar que seus avós foram vítimas de trabalho infantil, e que sua família lutou para que não seguisse o mesmo caminho.

A fala de Edisvânio Nascimento tocou numa ferida do governo federal. Radialista comunitário da Santa Luz FM, na região sisaleira da Bahia, ele contou que tenta há nove anos obter a autorização para a rádio, voltada para os direitos das crianças e dos adolescentes na região – conhecido pólo de trabalho infantil. Ele já foi processado e um de seus colegas chegou a ser condenado por conta da rádio comunitária".

terça-feira, 26 de junho de 2007

Câmara do Evangelho Quadrangular

Acusado de ser o mandante do assassinato de um colega, o deputado mineiro Mário de Oliveira (PSC) viajou pelo menos três vezes pela Câmara para encontros da Igreja do Evangelho Quadrangular. Ele preside a igreja desde 1998. Os dados contam do perfil oficial do deputado, no site da própria Câmara.

Duas dessas viagens foram para os Estados Unidos. Uma delas para a Flórida, em 1998, para a Convenção Internacional da Igreja do Evangelho Quadrangular. A viagem aparece como “missão oficial”, e Oliveira desponta como “representante da Câmara dos Deputados”.

A outra viagem internacional foi para o Havaí, em 2000. Desta vez Oliveira aparece como “participante” da Internacional Foursquare Convention, o mesmo nome em inglês para Convenção Internacional da Igreja do Evangelho Quadrangular.

Uma das viagens foi caseira, para São Paulo. Em 2000, Oliveira participou, também como “representante da Câmara dos Deputados”, da 44ª Convenção Nacional da Igreja do Evangelho Quadrangular.

O deputado tem em seu perfil o registro de apenas mais duas missões oficiais, para São Paulo e Minas Gerais, em 2000 e 2001, para “compromissos político-partidários”, mas não há especificação de quais foram esses compromissos.

Interesses político-eleitorais da igreja seriam exatamente o motivo das desavenças entre Oliveira e o deputado Carlos Willian, do PTC de Minas. Willian é ex-dirigente da Igreja do Evangelho Quadrangular. Sua candidatura foi lançada por Oliveira apenas para fazer número, mas, eleito, ele passou a ser considerado um traidor pelo antigo padrinho político.

Segundo a polícia civil de São Paulo, o assassinato seria cometido por um pistoleiro chamado Alemão. Um intermediário para a contratação do pistoleiro, Odair Silva, colaborador da Igreja do Evangelho Quadrangular, apontou Oliveira como o mandante do crime.

Em 2003, a então ministra Benedita da Silva, da Assistência e Promoção Social, viajou a Buenos Aires para participar de um encontro evangélico. Após a divulgação das viagens, ela tirou R$ 4.676,38 do próprio bolso para pagar as passagens.

(Reportagem produzida para a Associação Paulista de Jornais)

domingo, 10 de junho de 2007

Amigos, inimigos e indiferentes

A exploração sexual de crianças e adolescentes deveria ser um dos grandes temas nacionais. Na mídia e na política. Não é. Especialistas falam que na raiz do problema está um certo "pacto do silêncio". Até que ponto cada cidadão faz parte desse pacto?

Confira artigo meu sobre o tema no site da Agência Repórter Social.

***

A Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi) divulgou os 20 profissionais que receberão, no dia 12 de julho, o título de Jornalistas Amigos da Criança. Estou entre eles.

Desde 2003, o título é dado a cada dois anos. Fico feliz pelo reconhecimento não só de meu trabalho, mas o da Agência Repórter Social.

Acho sintomático que, entre os quatro jornalistas de São Paulo (fui homenageado ainda pelo trabalho feito em SP, e não Brasília), apenas uma seja do mainstream, a repórter do "Estadão". Meu ex-professor Sérgio Gomes, da Oboré, e Adalberto Marcondes, da Envolverde, completam o quarteto.

O recado da Andi é claro: nem tudo hoje passa pela chamada grande imprensa.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Na Funai, a percepção do descaso

Em entrevista à Agência Repórter Social, o presidente da Funai diz que está impressionado com o quanto a sociedade brasileira ignora a história, a cultura e os direitos indígenas.

O paraense Márcio Meira está há dois meses no cargo. Substituiu o polêmico Mércio Rodrigues. Deixa escapar que não recebeu orientação específica do ministro Tarso Genro a respeito da polêmica envolvendo a empresa Aracruz - em disputa por terras com povos indígenas.

Ele diz que houve apenas uma orientação geral de Tarso e do presidente Lula a respeito da continuidade das homologações. É pouco. Lula não fez nada para os povos indígenas nos primeiros quatro anos (como ele mesmo admitiu), e a hora da virada já passou.

terça-feira, 29 de maio de 2007

Renan e os R$ 100 mil

O presidente do Senado declarou ter doado R$ 100 mil para um "fundo de educação" destinado ao futuro da filha que tem com a jornalista Mônica Veloso. É um valor considerável. Pagaria, em tese, quatro anos de uma mensalidade de R$ 2.083 em uma faculdade particular.

De onde vieram os R$ 100 mil? É a pergunta que o Brasil agora faz.

Uma pena o mandato de um senador ser tão longo. Não fosse, e caso Renan Calheiros tivesse sido reeleito no ano passado, teríamos uma declaração de bens atualizada.

Na declaração de bens de 2002, José Renan Vasconcelos Calheiros enumerou:

- uma casa no Lago Sul, em Brasília;
- um apartamento em Ponta Verde, em Maceió;
- um apartamento em flat, em Brasília;
- um Toyota Hilux 2001 (um dos carros preferidos pelos parlamentares);
- um Mitsubish L.

Não há nenhuma menção sobre valores em banco ou outro tipo de aplicação.

Sim, o salário de senador permite a economia de R$ 2.083 durante quatro anos (e cinco meses). Mas vimos, por exemplo, que a pensão alimentícia à jornalista ultrapassou durante um bom tempo seu salário líquido como senador.

Aguardemos, portanto, explicações mais completas.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

De costas para os índios

507 anos depois, os índios continuam sendo escanteados. Nesta quarta-feira, 23 de maio, foi relançada no Congresso a Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Indígenas. Oficialmente, 170 deputados e senadores participam desse grupo. Na prática, porém, contavam-se nos dedos os presentes. Tanto os deputados que falaram como uma liderança indígena estimaram em dez o número de parlamentares que devem efetivamente abraçar a causa. A frente parlamentar mais conhecida do Congresso é a famosa bancada ruralista – exatamente uma conhecida opositora das aspirações dos índios por novos territórios. A frente parlamentar ambientalista, essa também foi criada há pouquíssimo tempo. Essas frentes nascem no vácuo dos partidos, que pouco têm, afinal, discutido programas ou afirmado teses, projetos de país. Mas são um instrumento democrático importante. Só que a nossa democracia é desigual. O único índio que tivemos no Congresso foi o cacique Juruna, nos anos 80. Ele era simplesmente humilhado pelos colegas. Seu antigo chefe de gabinete, um sertanista que hoje trabalha na Eletronorte, conta que cabiam nos dedos de uma mão os deputados que o tratavam com respeito. A eles agora cabe ser representado pelos brancos. Um representante da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia sintetizou bem o restabelecimento da Frente Parlamentar. “Muito bom ela ter sido recriada”, disse ele. “Mas não é uma motivação ter tão poucos parlamantares”. Brasília, capital do Brasil. Alceu Castilho, para a Netpress

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Justificando o injustificável

O líder do PSDB na Câmara, Antonio Carlos Pannunzio, comparou uma vez os deputados a uma turma de universitários: andam em bando, assinam a lista e muitas vezes vão embora, comportam-se de modo, digamos, pouco sisudo. Pois bem: dados levantados pela coluna vão ao encontro das observações do tucano. É que os deputados novatos, aqueles em primeira legislatura, são mais assíduos que os veteranos. Vejamos: entre os 70 deputados paulistas, metade pode ser considerada “novata”, e metade, “veterana”. Vamos deixar de fora da contagem o falecido deputado Enéas e seu sucessor. Desde que eles assumiram o cargo, em 1º de fevereiro, 34 deputados “novatos” faltaram 212 vezes em plenário – e 35 deputados veteranos, 251 vezes. Nas comissões temáticas, importantíssimas no dia-a-dia da Câmara, a diferença aumenta: os novatos faltaram 95 vezes. Os veteranos, 166. No caso das faltas em comissões sem justificativa, a diferença chega ao dobro: 65 faltas contra 128. E isso tudo, repito, sem as inúmeras faltas de Enéas, por motivos médicos. Por que isso tudo acontece talvez seja um assunto para sociólogos, cientistas políticos... mas também é um assunto para eleitores, pois não? A banalização das faltas no Congresso é um fenômeno que precisa ser observado pelos brasileiros. Vai o caro leitor faltar desse jeito no trabalho para ver o que acontece. Brasília, capital do Brasil. Alceu Castilho, para a Netpress.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Mentalidade côncava

Polícia para quem precisa de polícia. Em dezembro, o jornalista Jailton de Carvalho, de O Globo, foi preso pela polícia do Senado, em pleno gramado do Congresso. Ele foi abordado por um segurança sem identificação e se recusou a apresentar credencial – pois só o faria no lugar habitual, a portaria. Dali foi para um camburão e uma sala no subsolo do Senado, onde ficou algemado durante 50 minutos. Isso até o presidente Renan Calheiros ficar sabendo e determinar a imediata soltura. Desta vez, foi este colunista que ficou conhecendo a truculência da polícia legislativa, ao ser, segundo os agentes, “convidado a prestar queixa” nos mesmos porões do Congresso. Tudo porque uma funcionária encarregada de fornecer credencial para jornalistas não gostou da insistência em perguntas sobre o indeferimento de um pedido de renovação. Seria algo banal, mas aqui em Brasília... Dezoito anos após o fim da ditadura, ainda é assim: há quem esteja louco para estalar o dedo e chamar um policial para resolver qualquer coisa. No meu caso, a situação ficou à beira do surreal, com um delegado constrangido, um policial federal migrado para a polícia legislativa, exercendo a função, pasmem, de intermediador de um caso de fornecimento de credencial. No caso do jornalista de O Globo, as marcas das algemas devem demorar um pouco mais a sair. Quem perde com tudo isso, claro, é a democracia. Liberdade de imprensa, sim, supostamente é um direito garantido – mas nada de discordar dos pobres e oprimidos funcionários do Senado, sim? Polícia para quem precisa de polícia. E Senado para quem precisa de Senado. Brasília, capital do Brasil. Alceu Castilho, para a NetPress.

sexta-feira, 16 de março de 2007

"Não somos bem recebidos em Brasília porque..."

Após cinco dias de acampamento no Eixo Monumental, centenas de ribeirinhos do São Francisco deixam hoje Brasília. Eles tentaram deixar seu recado. O índio Iapirá, da etnia kariri, estava revoltado na noite de quinta-feira com o pouco espaço para mostrarem sua voz. Na Câmara, diz ele, vários deputados falaram, contra e a favor da transposição do Velho Chico. Mas só um representante dos movimentos sociais teve direito à fala. Perguntei a ele se considerava ter sido bem recebido. A resposta:
“Nós não somos recebidos em Brasília porque:
Quando teve a marcha dos 500 anos, parte dos índios foi massacrada, em Porto Seguro. Nós não tivemos o direito de mostrar nossa resistência como brasileiros, nossa garra, nosso talento, nossa força de resistência.
Eu estava aqui em Brasília e fomos barrados na porta principal do Congresso Nacional. Foi índio arrebentado de cassetete e até chutado pelos militares que foram mandados pelo próprio governo federal.
Isto é, não podemos considerar que fomos bem recebidos. Se fôssemos um povo bem recebido, como estamos aqui para defender uma causa, do Rio São Francisco, não tinha necessidade de fazer um barraco, em frente a todos os ministérios. Pelo contrário, estamos é massacrados.”

quinta-feira, 15 de março de 2007

Um latifundiário no Ministério da Agricultura

O futuro ministro da Agricultura, deputado Odílio Balbinotti (PMDB-PR), é um dos reis da soja no Mato Grosso. Ele deve assumir nesta sexta-feira o cargo, conforme anúncio feito pelo presidente do PMDB, Michel Temer. À Justiça Eleitoral, ele declarou catorze fazendas por R$ 68,4 milhões. Todas ficam na região de Rondonópolis, onde ele é apontado como o maior produtor de semente de soja do País.

Balbinotti é dono de uma fortuna de R$ 123 milhões. Na Câmara, ele só possui menos bens que o deputado Camilo Cola (PMDB-ES), o dono da Viação Itapemirim. As catorze fazendas declaradas pelo deputado ocupam um total de 12.500 hectares. Confira a lista:

- fazenda Adriana, em Alto Garças – 1.952 hectares - R$ 20 milhões
- fazendas Seriema I e II, Alto Garças – 1.837 hectares - R$ 12,4 milhões
- fazenda Cachoeira Vermelha, em Guiratinga – 994 hectares - R$ 8 milhões
- fazenda Morro das Araras, Alto Garças – 940 hectares - R$ 7 milhões
- fazenda Pádua, Alto Garças – 2.486,04 hectares – R$ 5,5 milhões
- fazenda Cristo Rei, Alto Garças - 956 hectares - R$ 4,3 milhões
- fazenda Jurigue, em Pedra Preta – 1.243 hectares – R$ 3,1 milhões
- fazenda Lagoa Azul, Alto Garças – 313 hectares – R$ 3 milhões
- fazenda Bambu, Alto Garças – 212 hectares – R$ 2,1 milhões
- fazenda Adriana II, Alto Garças – 146 hectares – R$ 1,3 milhão
- fazenda Jurigue II, Pedra Preta - 398 hectares - R$ 1 milhão
- fazenda Reserva, Alto Garças - 1.000 hectares - R$ 450 mil
- fazenda Jurigue III, Pedra Preta - 79 hectares - R$ 200 mil


Veja a reportagem completa no site da Agência Repórter Social.

Reportagens publicadas em alguns veículos apontam Balbinotti como dono da empresa Sementes Adriana (nome de sua principal fazenda), administrada por Odílio Balbinotti Filho. A área de produção da empresa aparece ora com 26 mil hectares, ora com 29 mil hectares.

Brasília, capital do latifúndio.

PS: a posse do ministro foi adiada para quinta-feira.

terça-feira, 13 de março de 2007

Do Velho Chico a Brasília

Centenas de moradores da região do Rio São Francisco estão acampados em pleno canteiro central do Eixo Monumental, avenida de Brasília que desemboca na Esplanada dos Ministérios, Congresso e Palácio do Planalto. Eles fazem parte de movimento contrário à transposição e favorável a uma revitalização ampla do rio.

Em um país carente do exercício de cidadania, manifestações assim deveriam estar na primeira página dos jornais. A mesma imprensa que aponta as pontas do iceberg da violência deveria estar mais atenta aos clamores da sociedade organizada - que convive com os problemas sociais e ambientais em suas origens. Não se trata de concordar com as reivindicações, mas do dever cívico de divulgá-las.

Se o Brasil vive um conflito aberto entre civilização e barbárie, os 18 ônibus com defensores do Velho Chico, acampandos próximos da Torre de TV, representam a civilização. A dona Josefa da Guia (foto), parteira de mais de 5 mil numa comunidade quilombola, o Toinho Pescador, líder de seu segmento e poeta, o aposentado Antônio Jackson, organizador do primeiro museu sobre o Rio São Francisco, estão lá - e precisam ser ouvidos. Inclusive pela chefia do Executivo.

Uma verdadeira capital deveria ter bem mais presença popular. Quando o povo se desloca milhares de quilômetros, com todas as dificuldades, e se abriga em um sol implacável como o destes dias em Brasília, merece respeito. Não pode ser escanteado ou tratado como coadjuvante. Deve ser reverenciado, como protagonista maior da nação. Caso isso não aconteça, o grito acabará sendo ouvido de outras formas.

Brasília, sim - capital do Brasil.

segunda-feira, 12 de março de 2007

Farias na Comissão de Direitos Humanos?

O falecido deputado Gerônimo da Adefal (PFL-AL), portador de deficiência física, fazia parte da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.

Caso se confirme a posse de Augusto Farias (PTB), seu primeiro suplente, irá o irmão de PC ( preso em 2003 sob a acusação de promover trabalho escravo em sua fazenda no Pará) para a mesma comissão?

domingo, 11 de março de 2007

15 anos depois, eles estão de volta

Augusto Farias (PTB-AL) deve assumir esta semana como o mais "novo" deputado federal. Ele é o primeiro suplente de Gerônimo da Adefal (PFL), morto na madrugada deste domingo. Ironicamente, a coligação que elegeu o deputado chamava-se "Alagoas, Mudar para Crescer".

Mudar?

Para quem ainda não ligou o nome à pessoa, o advogado Augusto Cesar Cavalcante Farias é irmão de PC Farias, pivô da crise institucional de 1992. Foi investigado pela CPI do Narcotráfico e chegou a ser indiciado pela polícia de Alagaoas pela morte do próprio irmão. Também esteve preso sob a acusação de manter trabalho escravo em sua fazenda no Pará.

A alguns passos da Câmara, Augusto Farias poderá tomar cafezinho no Senado com outros personagens principais da era Collor: o próprio ex-presidente Fernando Collor (PTB), novato no Senado, e o já veterano Renan Calheiros (PMDB).

Brasília, capital da República de Alagoas.

terça-feira, 6 de março de 2007

O churrasco do "Boy" e a falta de memória

As eleições não podem ser esquecidas pela mídia. Estamos a apenas um mês da posse dos deputados. A quem mais, afinal, cabe martelar a idéia (ou informação) de que o sistema eleitoral tem distorções estruturais? O procurador Mario Luiz Bonsaglia, da Procuradoria Regional Eleitoral paulista, vai direto ao ponto ao afirmar que a legislação atual favorece o abuso do poder econômico. Portanto não podemos fazer de conta que é tudo tão legítimo assim.

Uma leitura das ações relativas a 12 deputados federais por São Paulo, todos em tese ameaçados de cassação, caso a Justiça concorde com Bonsaglia, mostra o tamanho do descalabro. O caso mais emblemático é o do redivivo Valdemar Costa Neto (PR), o Boy, flagrado pela repórter Fabiane Leite, da Folha, no ano passado, oferecendo churrasco para 1.400 pessoas e, em seguida, pedindo votos – acompanhado do prefeito de Bertioga, cidade litorânea vizinha à sua Mogi das Cruzes.

Mas há outros casos que mostram, no mínimo, o tamanho da distração dos nossos políticos – e de seus contadores. A novata Aline Corrêa (PP), por exemplo, filha do ex-deputado Pedro Corrêa, contratou pelo menos 100 pessoas sem qualquer tipo de prestação de contas. O deputado Mendes Thame (PSDB) diz que seu nome foi citado indevidamente em campanhas de deputados estaduais – mas o caso envolvendo o estadual Marcos Zerbini é grave, pois trata de utilização de funcionários públicos municipais na campanha.

A versão dos 12 deputados paulistas para as ações movidas por Bonsaglia está no site de alguns veículos da rede Associação Paulista de Jornais.

Brasília, capital da cara-de-pau.

domingo, 4 de março de 2007

Câmara Bilionária (XIII)

O procurador Mario Luiz Bonsaglia, piloto da Procuradoria Regional Eleitoral em São Paulo, concedeu a mim uma entrevista um tanto desencantada sobre abusos durante as eleições de 2006. Ela está publicada na edição de hoje de alguns veículos da rede Associação Paulista de Jornais. Ele fala dos deputados paulistas que estão com mandato sub judice, por conta de ações movidas pela Procuradoria, e repercute dados da série Câmara Bilionária. Para ele, a reforma eleitoral é tão importante quanto a reforma política. Confira uma das respostas:

Por que os candidatos podem doar mais de 10% do que possuem em bens, ao contrário das demais pessoas físicas? Há quem doe até mais do que possui, e dezenas de casos onde a doação é bem maior do que o disponível em bens circulantes...
B0nsaglia -
Essa é uma aberração. A única exigência feita é que estejam dentro do limite indicado quando da candidatura. Realmente causa espécie. A legislação eleitoral favorece várias formas de abuso de poder econômico. Nesses casos vale a quebra do sigilo bancário. A saída é o financiamento público, com punições severas para quem infringir essas regras. Não tenho ilusão: se tiver funcionamento público, haverá candidato que vai usar recursos públicos clandestinamente. Mas a intenção do MPF é acabar com a impunidade.

Brasília, capital da impunidade.

PS: o blog não foi atualizado durante a última semana por conta de uma conjuntivite renitente.

sábado, 24 de fevereiro de 2007

Câmara Bilionária (XII)

QUANTOS ANOS DE SALÁRIO ELES INVESTIRAM NA CAMPANHA

DEPUTADO - INVESTIMENTO PRÓPRIO - ANOS DE SALÁRIO*

Alfredo Kaefer (PSDB-PR) -
R$ 952.000
R$ 1.581.479 ** = 16,4
Odílio Balbinotti (PMDB-PR) - R$ 1.153.900 - 7,5
Rodrigo Loures (PMDB-PR) - R$ 1.132.311 - 7,3
Camilo Cola (PMDB-ES) -
R$ 387.800
R$ 680.500 ** - 6,9
Albano Franco (PSDB-ES) - R$ 1.068.000 - 6,9
Djalma Berger (PSDB-SC) - R$ 960.000 - 6,2
Tatico (PTB-GO) -
R$ 45.000
R$ 850.200 ** - 5,8
Wellinton (PR-MT) - R$ 777.300 - 5,2
Roberto Balestra (PP-GO) - R$ 720.000 - 4,8
Antonio Andrade (PMDB-MG) - R$ 636.000 - 4,2
Sandro Mabel (PR-GO) -
R$ 48.500
R$ 527.400 ** - 3,8
Ratinho Junior (PPS-PR) - R$ 570.000 - 3,7
Vadão Gomes (PP-SP) - R$ 542.178 ** - 3,5
Bonifácio Andrada (PSDB-MG) - R$ 502.884 - 3,3
Silvio França (PSDB-SP) - R$ 479.080 ** - 3,1
Osmar Serraglio (PMDB-PR) - R$ 446.558 - 2,9
Arolde de Oliveira (PFL-RJ) *** - R$ 445.000 - 2,9
Clóvis Fecury (PFL-MA) -
R$ 250.600
R$ 180.000 ** - 2,8
Alex Canziani (PTB-PR) - R$ 417.000 - 2,7
José Carlos Machado (PFL-SE) - R$ 421.968 - 2,7
Pinotti (PFL-SP) *** - R$ 397.900 - 2,6
Paulo Maluf (PP-SP) -
R$ 7.300
R$ 385.638 ** - 2,5
Maurício Rands (PT-PE) - R$ 386.500 - 2,5
Francisco Rossi (PMDB-SP) - R$ 385.100 - 2,5
Dagoberto Nogueira (PDT-MS) - R$ 370.000 - 2,4
Waldir Neves (PSDB-MS) - R$ 361.602 - 2,3
Jaiminho Martins (PR-MG) - R$ 344.180 - 2,2
Nelson Trad (PMDB-MS) - R$ 327.657 - 2,1
Marcelo Ortiz (PV-SP) - R$ 323.682 - 2,1
Ezequiel (PMDB-RJ) - R$ 316.354 - 2,1

Fonte: TSE/APJ

* conforme o salário bruto dos deputados, R$ 12.847,20
** doações feitas por empresas pertencentes ao próprio deputado
*** alguns deputados entre os que assumiram em 1º de fevereiro estão licenciados

Brasilia, capital da elite.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Câmara Bilionária (XI)

Odílio Balbinotti:
“Sou o 2º mais rico porque os outros não declaram”

" Ele tem a segunda maior fortuna entre os deputados que tomaram posse no dia 1º de fevereiro: R$ 123,8 milhões. Perde somente para o capixaba Camilo Cola, seu colega de partido, o dono da Itapemirim, com R$ 259 milhões. Mas Odílio Balbinotti (PMDB-PR) diz que não se considera o segundo mais rico. “O que eu tenho está tudo declarado”, afirmou. “Os outros não declaram, às vezes têm e escondem”.

Desde o dia 4 os veículos filiados à Associação Paulista de Jornais publicam a série Câmara Bilionária, detalhando como 503 deputados gastam seu dinheiro. Os dados são da Justiça Eleitoral, que não divulgou dados sobre 10 deputados. Balbinotti possui quase 10% do total dos parlamentares, R$ 1,25 bilhão. Agricultor, dono de mais de 12.500 hectares de terra, ele é um dos maiores produtores de sementes de soja do País.

“Não tenho problema com Receita, com nada”, afirma o deputado em sua quarta legislatura, reforçando a tese de que só aparece entre os mais ricos do País por omissão dos demais. “Não há um arado na fazenda que não esteja declarado. Tem gente que sonega. Tem nego muito mais rico que eu.”

Dono de um vocabulário pouco contido, o gaúcho de Guarama, radicado no Paraná e com terras no Mato Grosso, diz que seus funcionários estão instruídos a declarar tudo, em detalhes. “Essa é a orientação que dou para minha equipe”, diz Balbinotti. “Pago Imposto de Renda pra cacete. Não há uma declaração de bens mais detalhada que a minha na Câmara.” "

Brasília, capital da elite.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Não será por falta de “estímulo” que...

... a Política de Desenvolvimento da Biotecnologia, lançada no dia 08 pelo presidente Lula, se tornará uma realidade.

É que o documento que detalha essa Política traz uma overdose do verbo “estimular” entre os itens que definem o que será feito nos próximos anos. Mais precisamente, a palavra “estimular” aparece 55 vezes no início de cada objetivo ou diretriz. E principalmente entre os “objetivos específicos”: “estimular o uso de mecanismos”, “estimular a adoção de mecanismos”, e assim por diante, em longos exercícios de imprecisão administrativa.

Nenhum outro verbo aparece tanto. Em segundo lugar vem “promover”, 33 vezes. Depois, “desenvolver”, 27 vezes – este precedendo alguns dos objetivos mais práticos do documento. Em seguida, “criar”, 19 vezes - mas em geral iniciando frases do tipo “criar ambiente”, “criar mecanismos”, etc.

O verbo “apoiar” é enumerado 16 vezes, seguido de verbos como “fomentar”, “fortalecer” e “estabelecer”, 11 vezes cada. “Incentivar”, 10. “Induzir”, 7. Ou seja, vários indicadores de transferência de responsabilidades.

“Investir” aparece somente quatro vezes. “Formar”, algo em tese essencial em algo que se refere à política científica, somente três vezes. Entre os oito ministérios que terão responsabilidades pela Política de Biotecnologia, aliás, o da Educação possui o menor número de itens enumerados, dois. E um deles é genérico: repete-se entre as responsabilidades de todos os demais ministérios:

- Definir e assegurar recursos orçamentários e financeiros para implementação da Política de Desenvolvimento da Biotecnologia, nas áreas que são de sua responsabilidade.

Tradução em bom português: os ministérios e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial precisam agora ir atrás do dinheiro. Enquanto isso, ganham o papel de "estimuladores".

A íntegra do documento está no site do Ministério da Ciência e Tecnologia:
http://agenciact.mct.gov.br/upd_blob/41057.pdf

Brasília, capital das promessas.

Câmara Bilionária (X)


BANCO, PARA QUÊ?
Parlamentares declaram mais de R$ 11 milhões em espécie; confira onde estão R$ 9 milhões

DEPUTADO - DECLARAÇÃO* - VALOR*

Jofran Frejat (PTB-DF) - dinheiro em espécie - R$ 1,3 milhão
Reinaldo Nogueira (PDT-SP) - dinheiro em caixa – res em 31/12/05 - R$ 785 mil
Wladimir Costa (PMDB-PA) - disponibilidade financeira** - R$ 660 mil
Arolde de Oliveira (PFL-RJ) - dinheiro em caixa - R$ 500 mil
Mussa Demes (PFL-PI) - dinheiro em espécie em moeda corrente – R$ 440 mil
Nelson Goetten (PFL-SC) - dinheiro em espécie - R$ 400 mil
Arnaldo F. de Sá (PTB-SP) - disponível em poder do declarante - R$ 320 mil
Vicente Arruda (PSDB-CE) - em dinheiro – R$ 320 mil
Márcio França (PSB-SP) - dinheiro em espécie - R$ 310 mil
Aline Corrêa (PP-SP) - dinheiro em espécie – moeda nacional - R$ 280 mil
Rebbeca Garcia (PP-AM) - dinheiro em espécie - R$ 260 mil
Felipe Maia (PFL-RN) - dinheiro em espécie, moeda nacional, dez/05 - R$ 250 mil
Inocêncio Oliveira (PR-PE) - dinheiro em espécie – moeda nacional - R$ 250 mil
Lael Varella (PFL-MG) - dinheiro de contado - R$ 250 mil
Abelardo Lupion (PFL-PR) - disponibilidades financeiras - R$ 245 mil
Carlos Melles (PFL-MG) - dinheiro em espécie - R$ 241 mil
Lincoln Portela (PR-MG) - dinheiro em espécie - R$ 237 mil
Fabinho Liderança (PV-MG) - valor em moeda - R$ 207 mil
Djalma Berger (PSDB-SC) - saldo moeda nacional - R$ 187 mil
Francisco Tenório (PMN-AL) - dinheiro - R$ 185 mil
Paulo Bornhausen (PFL-SC) - saldo disponível em moeda em 31/05/2006 - R$ 166 mil
José Múcio (PTB-PE) - valor em espécie – moeda nacional - R$ 160 mil
Francisco Rossi (PTB-SP) - dinheiro em espécie – moeda nacional - R$ 150 mil
Geraldo Resende (PPS-MS) - dinheiro em espécie - moeda nacional - R$ 150 mil
Leandro Sampaio (PPS-RJ) - dinheiro em espécie - R$ 150 mil
Felipe Bornier (PHS-RJ) - saldo em cofre, disponibilidade em poder do declarante - R$ 131 mil
Alceni Guerra (PFL-PR) - moeda corrente do país - R$ 125 mil
Dr Damião (PR-PB) - numerário disponível - R$ 120 mil
Nelson Marquezelli (PTB-SP) - dinheiro em cofre - R$ 110 mil
Germano Bonow (PFL-RS) - moeda estrangeira equivalente a US$ 40 mil - R$ 107 mil
Renato Amary (PSDB-SP) - dinheiro em espécie - R$ 102 mil
Pinotti (PFL-SP)*** - dinheiro em poder do declarante - R$ 100 mil
Fernando Diniz (PMDB-MG) - dinheiro em espécie - R$ 100 mil

* conforme declarado à Justiça Eleitoral
** no caso de “disponibilidade financeira”, foram relacionados apenas os deputados que também enumeraram contas correntes em banco
*** alguns deputados, como Pinotti, estão afastados do cargo, na maior parte para assumirem secretarias estaduais; critério utilizado foi o dos deputados que tomaram posse no dia 1º

Fonte: TSE
Brasília, capital da elite.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Câmara Bilionária (IX)


AS MAIORES EMPRESAS

Deputado - Empresa* - Valor**

Camilo Cola (PMDB-ES) - Viação Itapemirim S/A - R$ 95,7 milhões
Camilo Cola - MC Massad Cola Emp.e Part.Ltda - R$ 89,3 milhões
Alfredo Kaefer (PSDB-PR) - Diplomata S/A - R$ 44,5 milhões
Sandro Mabel (PTB-GO) - Sanser Adm. e Partic. Ltda - R$ 31,1 milhões
Sandro Mabel - NE Particip. e Investimentos - R$ 26 milhões
Paulo Maluf (PP-SP) - Pasama Participações Ltda - R$ 23,3 milhões
Camilo Cola - Transportadora Itapemirim S/A - R$ 17,1 milhões
Alfredo Kaefer - Kaefer Adm. e Part. Ltda - R$ 13,5 milhões
José Chaves (PTB-PE) - NITA (Amstelveen, Holanda) - R$ 12,1 milhão
José Chaves - Chaves Empreend. e Engenharia - R$ 10,2 milhões
Vadão Gomes (PP-SP) - Frigorífico Estrela D’Oeste - R$ 9,8 milhões
Ciro Pedrosa (PV-MG) - Infrater Eng. e Constr. Ltda - R$ 9,74 milhões
Camilo Cola - Itapemirim Informática Ltda - R$ 9,7 milhões
Eunício Oliveira (PMDB-CE) - Confederal Vig. Transp. Valores - R$ 7,1 milhões
Eunício Oliveira - Santa Mônica Agropecuária e Serv. - R$ 4,83 milhões
Lael Varella (PFL-MG) - empresa Lael Varella, em Muriaé - R$ 3,7 milhões
Camilo Cola - Complexo Agroindustrial Pindobas - R$ 3,44 milhões
Paulo Maluf - Maritrad Comercial Ltda - R$ 2,74 milhões
Sarney Filho (PV-MA) - TV Mirante Ltda - R$ 2,71 milhões
Guilherme Campos (PFL-SP) - Guilherme Campos& Cia Ltda - R$ 2,7 milhões
Edmar Moreira (PFL-MG) - F.Moreira Vigilância e Seg. Ltda - R$ 2,7 milhões
Eunício Oliveira - Sociedade da Terra Veículos S/A - R$ 2,61 milhões
Paulo Maluf - Eucatex S.A. - R$ 2,6 milhões
Edmar Moreira - Ronda Equip. e Serv. de Seg. Ltda - R$ 2,6 milhões
Edmar Moreira - Emp. Seg. Créd. Itatiaia Ltda - R$ 2,6 milhões
Manoel Salviano (PSDB-CE) - Farmace Ind. Quim. Farm. Cearense - R$ 2,58 milhões
Silvio Torres (PSDB-SP) - Irga Lupércio Torres - R$ 2,3 milhões
Olavo Calheiros (PMDB-AL) - Conny Ind. de Sucos e Refrigerantes - R$ 2,3 milhões
Félix Mendonça (PFL-BA) - Grão Para Participações e Emp.Ltda - R$ 2,19 milhões
Eunício Oliveira - Corpo de Vigilantes Particulares Ltda - R$ 2,1 milhões
Bilac Pinto (PR-MG) - S. Francisco Empr.e Part. Ltda - R$ 2 milhões

* participação do deputado na empresa em ações, cotas e créditos
** conforme declarações à Justiça Eleitoral

Fonte: TSE
Brasília, capital da elite.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Câmara Bilionária (VIII)

OS “REIS DO GADO”

Deputado - Nº de bovinos* - Valor*

Tatico (PTB-GO) - 25.000 - R$ 15 milhões
Moisés Avelino (PMDB–TO) - 5.246** - R$ 35 mil
Beto Mansur (PP-SP) - 4.492 -R$ 1,9 milhão
Beto Mansur - R$ 426 mil***
Aline Corrêa (PP-SP) - 3.700 - R$ 350 mil
Vicentinho (PR-TO) - 3.691 - R$ 1,1 milhão
Giovanni Queiroz (PDT -PA) - 2.700 - R$ 900 mil
Ronaldo Caiado (PFL-GO) - 2.478 - R$ 1,1 milhão
Lázaro Botelho (PP-TO) - 2.309 - R$ 1 milhão
Odílio Balbinotti (PMDB-PR) - 2.100 - R$ 800 mil
Ernandes Amorim (PTB-RO) - 1.936 - R$ 5 mil
Osvaldo Reis (PMDB- TO) - 1.170 - R$ 550 mil
Inocêncio de Oliveira (PR-PE) - 1.107 - R$ 690 mil
Vadão Gomes (PP-SP) - R$ 1,43 milhão
Juvenil Alves (PT-MG) - **** R$ 1,7 milhão

* conforme declarado à Justiça Eleitoral
** o deputado declarou “semoventes” (animais)
*** o deputado declarou neste item “gado e cercas”
**** bovinos e eqüinos

Fonte: TSE
Brasília, capital da elite.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Câmara Bilionária (VII)

AS TERRAS MAIS CARAS
Entre 30 bens acima de R$ 1 milhão, 7 dos 14 proprietários declararam o tamanho

DEPUTADO

PROPRIEDADE* - VALOR* - HECTARES* * - R$/ha**

Odílio Balbinotti (PMDB-PR)
- fazenda Adriana – Alto Garças (MT) - R$ 20 milhões - 1.952 - R$ 10.245
- fazenda Seriema I e II – Alto Garças - R$ 12,4 milhões - 1.837 -R$ 6.748

Vadão Gomes (PP-SP)
- fazenda Vitória, em Itarumã (GO) - R$ 10 milhões

Odílio Balbinotti
- fazenda Cachoeira Vermelha – Guiratinga (MT) - R$ 8 milhões - 994 - R$ 8.048
- fazenda Morro das Araras – Alto Garças - R$ 7 milhões - 940 - R$ 7.448
- fazenda Pádua – Alto Garças - R$ 5,5 milhões - 2.486 - R$ 2.212

Giovanni Queiroz (PDT-PA)
- fazenda Pau Darco - R$ 4,5 milhões

Odílio Balbinotti
- fazenda Cristo Rei – Alto Garças - R$ 4,3 milhões - 956 - R$ 4.497
- fazenda Jurigue – Pedra Preta (MT) - R$ 3,1 milhões - 1.243 - R$ 2.493
- fazenda Lagoa Azul – Alto Garças - R$ 3 milhões - 313 - R$ 9.571

Vicente Oliveira (PSDB-TO)
- fazenda – Pindorama do Tocantins - R$ 3 milhões - 3.500 - R$ 857

Beto Mansur (PP-SP)
- propriedade rural – Bonópolis (GO) - R$ 2,76 milhões

Vadão Gomes
- imóvel rural R$ 2,7 milhões

Odílio Balbinotti
- fazenda Bambu – Alto Garças - R$ 2,1 milhões - 212 - R$ 10.000

Lázaro Martins (PP-TO)
- fazenda Ipê, em Araguaína R$ 2 milhões

Reinaldo Nogueira (PDT-SP)
- área com 1.013,64 alqueires paulistas - R$ 1,9 milhão - 2.453 - R$ 774

Vicente Oliveira
- Nova Olinda, em Pindorama do Tocantins - R$ 1,7 milhão - 2.020 - R$ 842

Vadão Gomes
- parte da Fazenda Turbilhão – Estrela D’Oeste (SP) - R$ 1,5 milhão - 100 - R$ 15.000

Tatico (PTB-GO)
- fazenda Bonito – Mimoso de Goiás - R$ 1,5 milhão - 648 - R$ 2.315

Paulo Magalhães (PFL-BA)
- fazenda Iracema (restando saldo de R$ 1,3 milhão) 0 R$ 1,5 milhão

Gerson Peres (PP-PA)
- terreno com duas casas e piscina – Benevides (PA) - R$ 1,48 milhão - 14 - R$ 105.714

Camilo Cola (PMDB-ES)
- fazenda Pindobas IV, em Conceição do Castelo e Afonso Cláudio - R$ 1,44 milhão

Nelson Marquezelli (PTB-SP)
- fazenda Santa Rosa Alta, em Descalvado - R$ 1,41 milhão - 631 - R$ 2.232

Vadão Gomes
- 50% fazenda Vista Alegre – Ap. do Taboado (MS) - R$ 1,3 milhão - 903 - R$ 1.439

Tatico
- fazenda Brinco de Ouro – Pirenópolis - R$ 1,3 milhão - 600 - R$ 2.166

Odílio Balbinotti
- fazenda Adriana II – Alto Garças - R$ 1,3 milhão - 146 - R$ 8.885

Giovanni Queiroz
- fazenda Rio Maria - R$ 1,3 milhão

Dilceu Sperafico (PP-PR)
- terras no lugar Algonauta, em Campo Verde (MT) -R$ 1,08 milhão

Moreira Mendes (PPS-RO)
- fazenda Três Capelas e benfeitorias - R$ 1 milhão

Odílio Balbinotti
- fazenda Jurigue II – Pedra Preta - R$ 1 milhão - 398 - R$ 2.514

*conforme declarações à Justiça Eleitoral
** conforme declarações e/ou cálculo da reportagem

Fonte: TSE/APJ

Brasília, capital da elite.

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Câmara Bilionária (VI)

AS TERRAS MAIS BARATAS
Valor do hectare chega a centavos em algumas declarações

DEPUTADO

PROPRIEDADE* - VALOR* - HECTARES* * - R$/ha**

Aelton Freitas (PR-MG)
- gleba Carajari – Altamira – 100.000 alqueires - R$ 40.000 - 482.000 - R$ 0,08

Pinotti (PFL-SP)***
- gleba de 3.000 alqueires em Comunata (AM) - R$ 829 - 8.160 - R$ 0,10

Adão Pretto (PT-RS)
- terra com 198.500 m2, adq. por herança em 1971 - R$ 2,92 - 19,8 - R$ 0,15

Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR)
- 1/8 terreno com 6.015 alqueires – Cambé - R$ 3.202 - 14.556 - R$ 0,22

Carlos Bezerra (PMDB-MT)
- área em Paranatinga - R$ 2.776 - 4.600 - R$ 0,60

Wellington Fagundes (PR-MT)
- 50% de terras com balneário em Juscimeira - R$ 69.397 - 58.662 - R$ 1,18
- fazenda Bahia, em Alta Floresta - R$ 6.940 - 509 - R$ 13,6

Ronaldo Caiado (PFL-GO)
- fazenda Escalada em Mara Rosa – 200 alqueires R$ 1.174 - 480 - R$ 2,4
- fazenda Santa Maria em Nova Crixás - R$ 10.562 - 1.120 - R$ 4,8

Celso Maldaner (PMDB-SC)
- lote recebido por doação em 1993 – Tapurah (MT) - R$ 1.944 - 530 - R$ 3,7
- lote no projeto Trairão – São Félix do Xingu (PA) - R$ 66.295 - 2.861 - R$ 23,2

Mário Negromonte (PP-BA)
- fazenda com 3 mil tarefas – Jeremoabo - R$ 5.551 1.305 - R$ 4,3

Colbet Martins (PPS-BA)
- terra em Ruy Barbosa - R$ 193 - 37 - R$ 4,7
- terra em Ruy Barbosa - R$ 2.598 - 208 - R$ 12,4

Roberto Britto (PP-BA)
- imóvel Barra do Ouro – Lafayete Coutinho - R$ 5.413 - 1.105 - R$ 4,9
- imóvel Córrego Fundo – Aiquara R$ 3.331 - 100 - R$ 33,3

Sandro Mabel (PR-GO)
- fazenda Santa Luzia, em Cocalinho (MT) - R$ 54.775 - 9.000 - R$ 6,1

Osvaldo Reis (PMDB-TO)
- lote 1 e 2 na Fazenda Pilões, em Lajeado - R$ 60.000 - 8.000 - R$ 7,5

Nelson Proença (PPS-RS)
- gleba sem benfeitorias - São Félix do Xingu (PA) - R$ 12.683 - 1.385 - R$ 9,15

Gustavo Fruet (PSDB-PR)
- 1/6 imóvel rural – Juruqui Campo Largo - R$ 1.708 - 126 - R$ 13,6

Jader Barbalho (PMDB-PA)
- Registro do Chão Preto - São Domingos do Capim - R$ 11.986 - 750 - R$ 16

Julio César (PFL-PI)
- gleba Brejo dos Cagados – Guadalupe - R$ 2.361 - 149 - R$ 15,9
- gleba Bom Jesus – União Piauí – adq. em 1985 - R$ 8.202 - 198 - R$ 41,4

Geddel Lima (PMDB-BA)
- fazenda Tabajara Brasileira, Potiraguá (c/ irmãos) - R$ 2.599 - 102 - R$ 25,6

Manoel Salviano (PSDB-CE)
- 110 tarefas no sítio Cabeceiras - R$ 1.119 - 40 - R$ 28

José Rocha (PFL-BA)
- fazenda São Lorenço – Coribe - R$ 3.073 90 - R$ 34
- fazenda São Lorenço - R$ 2.500 - 58 - R$ 43,5

José Santana (PR-MG)
- imóvel a 6 km de Bom Jesus do Amparo - R$ 62.700 - 114 - R$ 40

Wellington Roberto (PR-PB)
- imóvel em Baianópolis (BA) - R$ 41.638 - 934 - R$ 44,5

Pedro Fernandes (PTB-MA)
Centro dos Macacos – São Domingos - R$ 18.889 - 400 - R$ 47

*conforme declarações à Justiça Eleitoral
** conforme declarações e cálculo da reportagem
*** alguns deputados estão afastados, principalmente para assumir secretarias de Estado; o critério utilizado no levantamento foi o dos deputados eleitos e que tomaram posse no dia 1º
Aelton Freitas diz que houve erro na declaração: a terra teria somente 1.000 alqueires (4.700 hectares).

Fonte: TSE/APJ
Brasília, capital da elite.

sábado, 17 de fevereiro de 2007

Câmara Bilionária (V)

50 TERRENOS E OUTROS IMÓVEIS POR R$ 22 MIL
Algumas declarações inspiram a tentação de fazer uma oferta de compra aos deputados. Confira:

Deputado - Imóvel* - Valor*
Pedro Henry (PP-MT)
- terreno em Mirassol do Oeste - R$ 16,72
- terreno em Cáceres - R$ 356,90
Fernando de Fabinho (PFL-BA)
- 2 lotes em Vista Alegre – Caldas do Jorro - R$ 277,58
- lote no Loteamento Elizabeth - R$ 377,58
- 13 lotes em Caldas de Cipó - R$ 1.804,31
Wellington Fagundes (PR-MT)
- terreno no loteamento Oásis em Rôo - R$ 277,59
- terreno de 372m2 no Jardim Rondônia - R$ 319,24
- 2 terrenos em Rondonópolis - R$ 416,38
Pinotti (PFL-SP)
- lote na Praia do Léo, em Ubatuba - R$ 357,58
Waldir Neves (PSDB-MS)
- lote no Jardim Noroeste – 360m2 - R$ 400,00
Geraldo Resende (PPS-MS)
- imóvel urbano nº 14, quadra 47 - R$ 449,67
Jader Barbalho (PMDB-PA)
- imóvel na Rod. doMaguary, Ananindeua - R$ 492,41
Bel Mesquita (PMDB-PA)
- 2 lotes urbanos em Parauapebas - R$ 500,00
Gonzaga Patriota (PSB-PE)
- lote em Sertânia - R$ 500,00
Luiz Carlos Setim (PFL-PR)
- lote na quadra 42, planta São Marcos II - R$ 603,28
- lote na plana Atuba, em S. J. dos Pinhais - R$ 828,68
Nelson Bornier (PMDB-RJ)
- lote na Rua Nicarágua, em Nova Iguaçu - R$ 601,13
Carlos Bezerra (PMDB-MT)
- terreno na Vila Lourdes, Rondonópolis - R$ 693,96
Luis Carlos Heinze (PP-RS)
- terreno na R. General Canabarro - R$ 693,98
- terreno no Praia Village Dunas, Sombrio - R$ 693,98
Jurandyr Loureiro (PSC-ES)
- lote no Serramar, Nova Almeida - R$ 696,96
Paulo Piau (PPS-MG)
- lote no bairro Caramuru, Patos de Minas - R$ 707,97
Milton Monti (PR-SP)
- 3 lotes no Jd Bela Vista, em S. Manuel - R$ 2.008,50
Rose de Freitas (PMDB-ES)
- 10 lotes no bairro Soteco, em Guarapari - R$ 8.500,00

* conforme declarado à Justiça Eleitoral

Fonte: TSE

Brasília, capital da elite.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Câmara Bilionária (IV)


Segue trecho da terceira reportagem da série Câmara Bilionária, intitulada "Um mercado imobiliário muito particular":

"Da carência à fartura: em um País com déficit de moradia estimado em 7 milhões de unidades, 503 deputados têm juntos mais de 3 mil imóveis urbanos, no valor de R$ 214 milhões. Mais da metade desses imóveis (1.654) são lotes e terrenos sem construção. A partir dos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a reportagem constatou que há lote declarado por até R$ 16,72. Distribuídos em cidades de 11 Estados brasileiros, 50 desses lotes foram estimados pelos deputados em R$ 22 mil, numa média de R$ 440 cada – valor aproximado de uma televisão de 20 polegadas.

O TSE não forneceu dados sobre 10 dos 513 parlamentares. Foram considerados neste levantamento os deputados que tomaram posse no dia 1º de fevereiro. Esses 503 eleitos possuem 568 apartamentos, 473 casas e 51 prédios, além de 208 imóveis comerciais, 13 barracões e 5 galpões, entre outros especificados apenas como “imóveis”. O apartamento mais caro, segundo a declaração de Carlos Bezera (PMDB- MT), fica na Rua Presidente Marques, em Cuiabá, e custa mais de R$ 15 milhões. Fica no Edifício Fontana di Trevi, nome da fonte romana consagrada pelo filme “La Dolce Vita”, de Fellini.

A série “Câmara Bilionária”, iniciada no domingo, 04 de fevereiro, mostra que os 503 deputados reúnem uma fortuna de R$ 1,25 bilhão, maior que o orçamento anual de Roraima. Os imóveis urbanos são o segundo investimento mais comum entre eles, atrás das empresas e à frente dos imóveis rurais (excluídos os equipamentos agrícolas), do dinheiro guardado ou aplicado (em bancos ou ações) e dos veículos – a reportagem de ontem mostrou que, à exceção do Gol, os modelos mais consumidos por eles são o Pajero, o Corolla e o Hilux.

Pelo Brasil

Cinqüenta e nove imóveis foram estimados em mais de R$ 500 mil cada. Mas entre as residências há três declaradas por menos de R$ 1 mil. O deputado Armando Abílio (PTB), um dos 15 que trocaram de partido antes mesmo da posse, possui 1/3 de casa de R$ 555 em Diamante (PB); Roberto Balestra (PP), 7/8 de uma de R$ 693 em Inhumas (GO); e Manoel Salviano (PSDB), uma estimada em R$ 968, em Juazeiro do Norte (CE). Outras 14 valem menos que R$ 10 mil – pouco mais que o salário líquido dos parlamentares.

Entre os apartamentos a discrepância em relação aos valores de mercado não chega a tanto. Mas há caso de um prédio inteiro declarado por R$ 4,2 mil, pelo deputado Inocêncio de Oliveira (PR-PE). Valores mais altos, porém, também passam longe da realidade observada nas imobiliárias - por mais que nas declarações de bens não seja, desde 1998, necessário fazer alguma correção monetária (isto no caso de imóveis que não tenham recebido algum tipo de benefício).

Assim, na lista dos parlamentares é possível achar mais de um apartamento em Brasília por R$ 30 mil, em regiões onde são vendidos por mais de R$ 300 mil. Por motivos evidentes, a capital federal é o destino mais procurado entre os deputados de outros Estados: são 43 casas e apartamentos declarados, o dobro dos 21 pertencentes aos oito representantes do Distrito Federal. O Rio (na foto) vem em seguida, com 17 imóveis entre os “estrangeiros” e 122 entre os fluminenses.

Mesmo nas praias, sonho de consumo de tanta gente, não é difícil achar lotes por valores irrisórios. Um lote do deputado Pinotti (PFL-SP) na Praia do Léo, em Ubatuba, no condomínio Sertãozinho, foi declarado por R$ 357,28. Em Guarapari (ES), a deputada Rose Freitas (PMDB) possui 10 lotes por R$ 850 cada. Um terreno de 360 m2 na praia de Jacumã, em Conde (PB), está nas mãos do deputado Fernando Ferro (PT-PE) por R$ 6 mil. Outro lote na Praia do Barco, em Osório (RS), foi declarado por Onyx Lorenzoni (PFL) por R$ 2,4 mil.

Outro lado

A assessoria do deputado Carlos Bezerrra informou que houve um erro de digitação na declaração: o apartamento de R$ 15 mil, na verdade, vale R$ 150 mil. O deputado afastado Pinotti, secretário de Ensino Superior do governo José Serra, disse que a defasagem no caso do lote (que fica numa montanha, e não na praia) deve-se ao fato de ter sido comprado em 1983, e pela impossibilidade de se corrigir o valor nas declarações de Imposto de Renda."
Brasília, capital da elite.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Câmara Bilionária (III)


OS CARROS PREFERIDOS
Quantas vezes cada veículo apareceu nas declarações dos deputados

Quantidade - Carro

53 - Gol/ Gol Special
43 - Mitsubish Pajero (na foto)
41 - Toyota Hilux
38 - Toyota Corolla
37 - Palio/ Palio Weekend
25 - Uno/ Uno Mille
24 - Chevrolet S-10
23 - Santana 23
21 - Fiesta
20 - Ford Ranger
20 - Chevrolet D-20
18 - Kombi
17 - Vectra
16 - Ômega
16 - GM Blazer
15 - Mitsubish L200
14 - Corsa
12 - Golf
12 - Astra
12 - Audi
11 - Polo
11 - Clio
11 - Zafira
11 - Ecosport
9 - Xsara Picasso
Fonte: TSE/APJ
Brasília, capital da elite.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Câmara Bilionária (II)

Segue relação dos deputados com aeronaves (4 do PMDB, 3 do PFL, 2 do PP):

Deputado Marca* Valor*

Odílio Balbinotti (PMDB-PR)
Bimotor Beech Airchraft 1988 R$ 5.870.000
Bimotor Piper Cheyenne II 1980 R$ 1.800.000 (na foto)
Avião Agrícola EMB202 2000 R$ 400.000
Avião Agrícola EMB202 2001 R$ 450.000

Geddel Lima (PMDB-BA)
Aeronave Piper Sêneca R$ 210.000

Chico Rodrigues (PFL-RR)
Cesna 182 R$ 110.000

Neudo Campos (PP-RR)
PT-OMY 1980 R$ 97.127

Carlos Bezerra (PMDB-MT)
Beech Aircraft R$ 60.000

Mauro Lopes (PMDB-MG)
Aeronave Sêneca R$ 45.100

Paulo Magalhães (PFL-BA)
Beech Crast Modelo BE-58 R$ 40.000

José Rocha (PFL-BA)
PT-ERC MOD EMB-BLOC R$ 36.738

Pedro Henry (PP-MT)
Aeronave PT-KNL R$ 25.000

* conforme declarado aos TREs

Fonte: TSE
Brasília, capital da elite.