sábado, 1 de setembro de 2007

Crônicas Brasileiras - I

A criança que não sorria

O desembargador Antonio Carlos Malheiros utilizou boa parte do seu tempo, durante o Seminário Nacional do Movimento Nacional de Direitos Humanos, em Brasília, para motivar os militantes presentes. Falou do trabalho de conscientização dos jovens “e arrogantes” juízes em São Paulo, de sua história na Comissão de Justiça e Paz (decisiva no combate à ditadura), e contou um pouco do seu trabalho como voluntário em hospitais paulistas, quando invoca um lado palhaço para contar histórias às crianças.

Num desses dias, ficou sabendo de um caso de um menino com o rosto desfigurado. Uma criança “sem rosto”, como definiu. O pai do menino assassinara sua mãe e tocara fogo no barraco. As seqüelas estão sendo combatidas no Pavilhão dos Queimados do Hospital Emílio Ribas.

Era uma véspera de Natal e Malheiros decidiu fazer o que sempre faz nessas situações: dirigiu-se ao leito do menino para contar histórias.

Começou a contar. Nenhuma reação.

Insistiu. Ficou parte da tarde contando histórias. Mas o menino não reagia.

Malheiros pensou: “Puxa, estou perdendo meu tempo aqui. Poderia estar com meus filhos, numa véspera de Natal, mas estou contando histórias para uma criança que não reage”.

Mas insistiu novamente, por mais um tempo. Depois foi fazer outras coisas no pavilhão e encaminhou-se para ir embora. Nesse momento, percebeu um puxão no jaleco.

- Tio...

Era ele: o menino sem rosto.

O desembargador ficou surpreso e perguntou o que ele tinha a dizer.

Até hoje ouve a resposta.

- Pode não parecer, mas estou sorrindo...

(textos publicados no site da Agência Repórter Social)

Um comentário:

Anônimo disse...

E a melhor historia ja contada pra mim de todos os tempos eu adorei a cronica e a melhor e espero que aja outras do mesmo aspecto.