segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Cadê o Jobim do trabalho infantil?

É um assunto mais importante do que os malabarismos orçamentários do senador Renan Calheiros ou a crise aérea. Mas pouca gente dá atenção. A quantidade de 5 milhões de crianças e adolescentes trabalhando em 2006, número próximo da população da cidade do Rio de Janeiro, deveria ser encarada como um escândalo nacional. Sociedade e governo, no entanto, parecem estar acostumados. A exploração sistemática de brasileiros inocentes e pobres é tomada como um mero detalhe.

Eu disse 5 milhões de crianças e adolescentes trabalhando? Não, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada na sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que são 5,1 milhões. Deixei os 100 mil de fora de propósito – pois essa quantidade já seria inaceitável em qualquer país. Os 5 milhões de crianças e adolescentes explorados no Brasil – por pais, empresários, comerciantes, fazendeiros, mafiosos do mercado informal – estão além do inaceitável.

A variação da porcentagem de explorados nos últimos anos mostra que, em pleno governo Lula, aquele que prometeu nada menos que a er-ra-di-ca-ção do trabalho infantil, pouco mudou. Em 2001, o índice era de 12,7%. Variou para 12,6% em 2002, 11,7% em 2003, 11,4% em 2005, 11,8% em 2005 (um aumento) e 11,1% em 2006. Com um agravante: essa pesquisa mostra o que os pais declararam. Suponhamos que alguns pais tenham preferido dizer que os filhos não participaram da renda familiar – será esta uma hipótese improvável?

E por falar em renda familiar, a mesma pesquisa do IBGE que divulgou o descalabro do trabalho infantil mostra que a renda do trabalhador subiu 7,2% em 2006 (e que é possível dar saltos estatísticos). Foi o melhor resultado em 11 anos. O aumento foi maior entre os trabalhadores pobres das regiões Norte e Nordeste. Justamente dois pólos do trabalho infantil. Ou seja: cruzando minimamente os dados, temos que um dos índices que mais se prestam à comemoração na Pnad teve seu edifício erigido também por mãos infantis.

Mãos infantis e negras. Os dados da Pnad mostram que 59,1% das crianças que trabalham são pretas e pardas - acima da média nacional (49,5%). Isto a quase 120 anos da abolição da escravatura. Os meninos compõem 64,4% do universo de explorados. A atividade agrícola, no país do agronegócio, responde por 41,14% dos trabalhadores mirins. Eles trabalham em média 20 horas por dia. Na última semana de setembro, quando os pesquisadores fizeram o último levantamento, estavam trabalhando 237 mil crianças entre 5 e 9 anos. Vou repetir: entre 5 e 9 anos.

Leia o artigo completo no site da Agência Repórter Social.

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