sábado, 24 de fevereiro de 2007

Câmara Bilionária (XII)

QUANTOS ANOS DE SALÁRIO ELES INVESTIRAM NA CAMPANHA

DEPUTADO - INVESTIMENTO PRÓPRIO - ANOS DE SALÁRIO*

Alfredo Kaefer (PSDB-PR) -
R$ 952.000
R$ 1.581.479 ** = 16,4
Odílio Balbinotti (PMDB-PR) - R$ 1.153.900 - 7,5
Rodrigo Loures (PMDB-PR) - R$ 1.132.311 - 7,3
Camilo Cola (PMDB-ES) -
R$ 387.800
R$ 680.500 ** - 6,9
Albano Franco (PSDB-ES) - R$ 1.068.000 - 6,9
Djalma Berger (PSDB-SC) - R$ 960.000 - 6,2
Tatico (PTB-GO) -
R$ 45.000
R$ 850.200 ** - 5,8
Wellinton (PR-MT) - R$ 777.300 - 5,2
Roberto Balestra (PP-GO) - R$ 720.000 - 4,8
Antonio Andrade (PMDB-MG) - R$ 636.000 - 4,2
Sandro Mabel (PR-GO) -
R$ 48.500
R$ 527.400 ** - 3,8
Ratinho Junior (PPS-PR) - R$ 570.000 - 3,7
Vadão Gomes (PP-SP) - R$ 542.178 ** - 3,5
Bonifácio Andrada (PSDB-MG) - R$ 502.884 - 3,3
Silvio França (PSDB-SP) - R$ 479.080 ** - 3,1
Osmar Serraglio (PMDB-PR) - R$ 446.558 - 2,9
Arolde de Oliveira (PFL-RJ) *** - R$ 445.000 - 2,9
Clóvis Fecury (PFL-MA) -
R$ 250.600
R$ 180.000 ** - 2,8
Alex Canziani (PTB-PR) - R$ 417.000 - 2,7
José Carlos Machado (PFL-SE) - R$ 421.968 - 2,7
Pinotti (PFL-SP) *** - R$ 397.900 - 2,6
Paulo Maluf (PP-SP) -
R$ 7.300
R$ 385.638 ** - 2,5
Maurício Rands (PT-PE) - R$ 386.500 - 2,5
Francisco Rossi (PMDB-SP) - R$ 385.100 - 2,5
Dagoberto Nogueira (PDT-MS) - R$ 370.000 - 2,4
Waldir Neves (PSDB-MS) - R$ 361.602 - 2,3
Jaiminho Martins (PR-MG) - R$ 344.180 - 2,2
Nelson Trad (PMDB-MS) - R$ 327.657 - 2,1
Marcelo Ortiz (PV-SP) - R$ 323.682 - 2,1
Ezequiel (PMDB-RJ) - R$ 316.354 - 2,1

Fonte: TSE/APJ

* conforme o salário bruto dos deputados, R$ 12.847,20
** doações feitas por empresas pertencentes ao próprio deputado
*** alguns deputados entre os que assumiram em 1º de fevereiro estão licenciados

Brasilia, capital da elite.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Câmara Bilionária (XI)

Odílio Balbinotti:
“Sou o 2º mais rico porque os outros não declaram”

" Ele tem a segunda maior fortuna entre os deputados que tomaram posse no dia 1º de fevereiro: R$ 123,8 milhões. Perde somente para o capixaba Camilo Cola, seu colega de partido, o dono da Itapemirim, com R$ 259 milhões. Mas Odílio Balbinotti (PMDB-PR) diz que não se considera o segundo mais rico. “O que eu tenho está tudo declarado”, afirmou. “Os outros não declaram, às vezes têm e escondem”.

Desde o dia 4 os veículos filiados à Associação Paulista de Jornais publicam a série Câmara Bilionária, detalhando como 503 deputados gastam seu dinheiro. Os dados são da Justiça Eleitoral, que não divulgou dados sobre 10 deputados. Balbinotti possui quase 10% do total dos parlamentares, R$ 1,25 bilhão. Agricultor, dono de mais de 12.500 hectares de terra, ele é um dos maiores produtores de sementes de soja do País.

“Não tenho problema com Receita, com nada”, afirma o deputado em sua quarta legislatura, reforçando a tese de que só aparece entre os mais ricos do País por omissão dos demais. “Não há um arado na fazenda que não esteja declarado. Tem gente que sonega. Tem nego muito mais rico que eu.”

Dono de um vocabulário pouco contido, o gaúcho de Guarama, radicado no Paraná e com terras no Mato Grosso, diz que seus funcionários estão instruídos a declarar tudo, em detalhes. “Essa é a orientação que dou para minha equipe”, diz Balbinotti. “Pago Imposto de Renda pra cacete. Não há uma declaração de bens mais detalhada que a minha na Câmara.” "

Brasília, capital da elite.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Não será por falta de “estímulo” que...

... a Política de Desenvolvimento da Biotecnologia, lançada no dia 08 pelo presidente Lula, se tornará uma realidade.

É que o documento que detalha essa Política traz uma overdose do verbo “estimular” entre os itens que definem o que será feito nos próximos anos. Mais precisamente, a palavra “estimular” aparece 55 vezes no início de cada objetivo ou diretriz. E principalmente entre os “objetivos específicos”: “estimular o uso de mecanismos”, “estimular a adoção de mecanismos”, e assim por diante, em longos exercícios de imprecisão administrativa.

Nenhum outro verbo aparece tanto. Em segundo lugar vem “promover”, 33 vezes. Depois, “desenvolver”, 27 vezes – este precedendo alguns dos objetivos mais práticos do documento. Em seguida, “criar”, 19 vezes - mas em geral iniciando frases do tipo “criar ambiente”, “criar mecanismos”, etc.

O verbo “apoiar” é enumerado 16 vezes, seguido de verbos como “fomentar”, “fortalecer” e “estabelecer”, 11 vezes cada. “Incentivar”, 10. “Induzir”, 7. Ou seja, vários indicadores de transferência de responsabilidades.

“Investir” aparece somente quatro vezes. “Formar”, algo em tese essencial em algo que se refere à política científica, somente três vezes. Entre os oito ministérios que terão responsabilidades pela Política de Biotecnologia, aliás, o da Educação possui o menor número de itens enumerados, dois. E um deles é genérico: repete-se entre as responsabilidades de todos os demais ministérios:

- Definir e assegurar recursos orçamentários e financeiros para implementação da Política de Desenvolvimento da Biotecnologia, nas áreas que são de sua responsabilidade.

Tradução em bom português: os ministérios e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial precisam agora ir atrás do dinheiro. Enquanto isso, ganham o papel de "estimuladores".

A íntegra do documento está no site do Ministério da Ciência e Tecnologia:
http://agenciact.mct.gov.br/upd_blob/41057.pdf

Brasília, capital das promessas.

Câmara Bilionária (X)


BANCO, PARA QUÊ?
Parlamentares declaram mais de R$ 11 milhões em espécie; confira onde estão R$ 9 milhões

DEPUTADO - DECLARAÇÃO* - VALOR*

Jofran Frejat (PTB-DF) - dinheiro em espécie - R$ 1,3 milhão
Reinaldo Nogueira (PDT-SP) - dinheiro em caixa – res em 31/12/05 - R$ 785 mil
Wladimir Costa (PMDB-PA) - disponibilidade financeira** - R$ 660 mil
Arolde de Oliveira (PFL-RJ) - dinheiro em caixa - R$ 500 mil
Mussa Demes (PFL-PI) - dinheiro em espécie em moeda corrente – R$ 440 mil
Nelson Goetten (PFL-SC) - dinheiro em espécie - R$ 400 mil
Arnaldo F. de Sá (PTB-SP) - disponível em poder do declarante - R$ 320 mil
Vicente Arruda (PSDB-CE) - em dinheiro – R$ 320 mil
Márcio França (PSB-SP) - dinheiro em espécie - R$ 310 mil
Aline Corrêa (PP-SP) - dinheiro em espécie – moeda nacional - R$ 280 mil
Rebbeca Garcia (PP-AM) - dinheiro em espécie - R$ 260 mil
Felipe Maia (PFL-RN) - dinheiro em espécie, moeda nacional, dez/05 - R$ 250 mil
Inocêncio Oliveira (PR-PE) - dinheiro em espécie – moeda nacional - R$ 250 mil
Lael Varella (PFL-MG) - dinheiro de contado - R$ 250 mil
Abelardo Lupion (PFL-PR) - disponibilidades financeiras - R$ 245 mil
Carlos Melles (PFL-MG) - dinheiro em espécie - R$ 241 mil
Lincoln Portela (PR-MG) - dinheiro em espécie - R$ 237 mil
Fabinho Liderança (PV-MG) - valor em moeda - R$ 207 mil
Djalma Berger (PSDB-SC) - saldo moeda nacional - R$ 187 mil
Francisco Tenório (PMN-AL) - dinheiro - R$ 185 mil
Paulo Bornhausen (PFL-SC) - saldo disponível em moeda em 31/05/2006 - R$ 166 mil
José Múcio (PTB-PE) - valor em espécie – moeda nacional - R$ 160 mil
Francisco Rossi (PTB-SP) - dinheiro em espécie – moeda nacional - R$ 150 mil
Geraldo Resende (PPS-MS) - dinheiro em espécie - moeda nacional - R$ 150 mil
Leandro Sampaio (PPS-RJ) - dinheiro em espécie - R$ 150 mil
Felipe Bornier (PHS-RJ) - saldo em cofre, disponibilidade em poder do declarante - R$ 131 mil
Alceni Guerra (PFL-PR) - moeda corrente do país - R$ 125 mil
Dr Damião (PR-PB) - numerário disponível - R$ 120 mil
Nelson Marquezelli (PTB-SP) - dinheiro em cofre - R$ 110 mil
Germano Bonow (PFL-RS) - moeda estrangeira equivalente a US$ 40 mil - R$ 107 mil
Renato Amary (PSDB-SP) - dinheiro em espécie - R$ 102 mil
Pinotti (PFL-SP)*** - dinheiro em poder do declarante - R$ 100 mil
Fernando Diniz (PMDB-MG) - dinheiro em espécie - R$ 100 mil

* conforme declarado à Justiça Eleitoral
** no caso de “disponibilidade financeira”, foram relacionados apenas os deputados que também enumeraram contas correntes em banco
*** alguns deputados, como Pinotti, estão afastados do cargo, na maior parte para assumirem secretarias estaduais; critério utilizado foi o dos deputados que tomaram posse no dia 1º

Fonte: TSE
Brasília, capital da elite.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Câmara Bilionária (IX)


AS MAIORES EMPRESAS

Deputado - Empresa* - Valor**

Camilo Cola (PMDB-ES) - Viação Itapemirim S/A - R$ 95,7 milhões
Camilo Cola - MC Massad Cola Emp.e Part.Ltda - R$ 89,3 milhões
Alfredo Kaefer (PSDB-PR) - Diplomata S/A - R$ 44,5 milhões
Sandro Mabel (PTB-GO) - Sanser Adm. e Partic. Ltda - R$ 31,1 milhões
Sandro Mabel - NE Particip. e Investimentos - R$ 26 milhões
Paulo Maluf (PP-SP) - Pasama Participações Ltda - R$ 23,3 milhões
Camilo Cola - Transportadora Itapemirim S/A - R$ 17,1 milhões
Alfredo Kaefer - Kaefer Adm. e Part. Ltda - R$ 13,5 milhões
José Chaves (PTB-PE) - NITA (Amstelveen, Holanda) - R$ 12,1 milhão
José Chaves - Chaves Empreend. e Engenharia - R$ 10,2 milhões
Vadão Gomes (PP-SP) - Frigorífico Estrela D’Oeste - R$ 9,8 milhões
Ciro Pedrosa (PV-MG) - Infrater Eng. e Constr. Ltda - R$ 9,74 milhões
Camilo Cola - Itapemirim Informática Ltda - R$ 9,7 milhões
Eunício Oliveira (PMDB-CE) - Confederal Vig. Transp. Valores - R$ 7,1 milhões
Eunício Oliveira - Santa Mônica Agropecuária e Serv. - R$ 4,83 milhões
Lael Varella (PFL-MG) - empresa Lael Varella, em Muriaé - R$ 3,7 milhões
Camilo Cola - Complexo Agroindustrial Pindobas - R$ 3,44 milhões
Paulo Maluf - Maritrad Comercial Ltda - R$ 2,74 milhões
Sarney Filho (PV-MA) - TV Mirante Ltda - R$ 2,71 milhões
Guilherme Campos (PFL-SP) - Guilherme Campos& Cia Ltda - R$ 2,7 milhões
Edmar Moreira (PFL-MG) - F.Moreira Vigilância e Seg. Ltda - R$ 2,7 milhões
Eunício Oliveira - Sociedade da Terra Veículos S/A - R$ 2,61 milhões
Paulo Maluf - Eucatex S.A. - R$ 2,6 milhões
Edmar Moreira - Ronda Equip. e Serv. de Seg. Ltda - R$ 2,6 milhões
Edmar Moreira - Emp. Seg. Créd. Itatiaia Ltda - R$ 2,6 milhões
Manoel Salviano (PSDB-CE) - Farmace Ind. Quim. Farm. Cearense - R$ 2,58 milhões
Silvio Torres (PSDB-SP) - Irga Lupércio Torres - R$ 2,3 milhões
Olavo Calheiros (PMDB-AL) - Conny Ind. de Sucos e Refrigerantes - R$ 2,3 milhões
Félix Mendonça (PFL-BA) - Grão Para Participações e Emp.Ltda - R$ 2,19 milhões
Eunício Oliveira - Corpo de Vigilantes Particulares Ltda - R$ 2,1 milhões
Bilac Pinto (PR-MG) - S. Francisco Empr.e Part. Ltda - R$ 2 milhões

* participação do deputado na empresa em ações, cotas e créditos
** conforme declarações à Justiça Eleitoral

Fonte: TSE
Brasília, capital da elite.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Câmara Bilionária (VIII)

OS “REIS DO GADO”

Deputado - Nº de bovinos* - Valor*

Tatico (PTB-GO) - 25.000 - R$ 15 milhões
Moisés Avelino (PMDB–TO) - 5.246** - R$ 35 mil
Beto Mansur (PP-SP) - 4.492 -R$ 1,9 milhão
Beto Mansur - R$ 426 mil***
Aline Corrêa (PP-SP) - 3.700 - R$ 350 mil
Vicentinho (PR-TO) - 3.691 - R$ 1,1 milhão
Giovanni Queiroz (PDT -PA) - 2.700 - R$ 900 mil
Ronaldo Caiado (PFL-GO) - 2.478 - R$ 1,1 milhão
Lázaro Botelho (PP-TO) - 2.309 - R$ 1 milhão
Odílio Balbinotti (PMDB-PR) - 2.100 - R$ 800 mil
Ernandes Amorim (PTB-RO) - 1.936 - R$ 5 mil
Osvaldo Reis (PMDB- TO) - 1.170 - R$ 550 mil
Inocêncio de Oliveira (PR-PE) - 1.107 - R$ 690 mil
Vadão Gomes (PP-SP) - R$ 1,43 milhão
Juvenil Alves (PT-MG) - **** R$ 1,7 milhão

* conforme declarado à Justiça Eleitoral
** o deputado declarou “semoventes” (animais)
*** o deputado declarou neste item “gado e cercas”
**** bovinos e eqüinos

Fonte: TSE
Brasília, capital da elite.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Câmara Bilionária (VII)

AS TERRAS MAIS CARAS
Entre 30 bens acima de R$ 1 milhão, 7 dos 14 proprietários declararam o tamanho

DEPUTADO

PROPRIEDADE* - VALOR* - HECTARES* * - R$/ha**

Odílio Balbinotti (PMDB-PR)
- fazenda Adriana – Alto Garças (MT) - R$ 20 milhões - 1.952 - R$ 10.245
- fazenda Seriema I e II – Alto Garças - R$ 12,4 milhões - 1.837 -R$ 6.748

Vadão Gomes (PP-SP)
- fazenda Vitória, em Itarumã (GO) - R$ 10 milhões

Odílio Balbinotti
- fazenda Cachoeira Vermelha – Guiratinga (MT) - R$ 8 milhões - 994 - R$ 8.048
- fazenda Morro das Araras – Alto Garças - R$ 7 milhões - 940 - R$ 7.448
- fazenda Pádua – Alto Garças - R$ 5,5 milhões - 2.486 - R$ 2.212

Giovanni Queiroz (PDT-PA)
- fazenda Pau Darco - R$ 4,5 milhões

Odílio Balbinotti
- fazenda Cristo Rei – Alto Garças - R$ 4,3 milhões - 956 - R$ 4.497
- fazenda Jurigue – Pedra Preta (MT) - R$ 3,1 milhões - 1.243 - R$ 2.493
- fazenda Lagoa Azul – Alto Garças - R$ 3 milhões - 313 - R$ 9.571

Vicente Oliveira (PSDB-TO)
- fazenda – Pindorama do Tocantins - R$ 3 milhões - 3.500 - R$ 857

Beto Mansur (PP-SP)
- propriedade rural – Bonópolis (GO) - R$ 2,76 milhões

Vadão Gomes
- imóvel rural R$ 2,7 milhões

Odílio Balbinotti
- fazenda Bambu – Alto Garças - R$ 2,1 milhões - 212 - R$ 10.000

Lázaro Martins (PP-TO)
- fazenda Ipê, em Araguaína R$ 2 milhões

Reinaldo Nogueira (PDT-SP)
- área com 1.013,64 alqueires paulistas - R$ 1,9 milhão - 2.453 - R$ 774

Vicente Oliveira
- Nova Olinda, em Pindorama do Tocantins - R$ 1,7 milhão - 2.020 - R$ 842

Vadão Gomes
- parte da Fazenda Turbilhão – Estrela D’Oeste (SP) - R$ 1,5 milhão - 100 - R$ 15.000

Tatico (PTB-GO)
- fazenda Bonito – Mimoso de Goiás - R$ 1,5 milhão - 648 - R$ 2.315

Paulo Magalhães (PFL-BA)
- fazenda Iracema (restando saldo de R$ 1,3 milhão) 0 R$ 1,5 milhão

Gerson Peres (PP-PA)
- terreno com duas casas e piscina – Benevides (PA) - R$ 1,48 milhão - 14 - R$ 105.714

Camilo Cola (PMDB-ES)
- fazenda Pindobas IV, em Conceição do Castelo e Afonso Cláudio - R$ 1,44 milhão

Nelson Marquezelli (PTB-SP)
- fazenda Santa Rosa Alta, em Descalvado - R$ 1,41 milhão - 631 - R$ 2.232

Vadão Gomes
- 50% fazenda Vista Alegre – Ap. do Taboado (MS) - R$ 1,3 milhão - 903 - R$ 1.439

Tatico
- fazenda Brinco de Ouro – Pirenópolis - R$ 1,3 milhão - 600 - R$ 2.166

Odílio Balbinotti
- fazenda Adriana II – Alto Garças - R$ 1,3 milhão - 146 - R$ 8.885

Giovanni Queiroz
- fazenda Rio Maria - R$ 1,3 milhão

Dilceu Sperafico (PP-PR)
- terras no lugar Algonauta, em Campo Verde (MT) -R$ 1,08 milhão

Moreira Mendes (PPS-RO)
- fazenda Três Capelas e benfeitorias - R$ 1 milhão

Odílio Balbinotti
- fazenda Jurigue II – Pedra Preta - R$ 1 milhão - 398 - R$ 2.514

*conforme declarações à Justiça Eleitoral
** conforme declarações e/ou cálculo da reportagem

Fonte: TSE/APJ

Brasília, capital da elite.

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Câmara Bilionária (VI)

AS TERRAS MAIS BARATAS
Valor do hectare chega a centavos em algumas declarações

DEPUTADO

PROPRIEDADE* - VALOR* - HECTARES* * - R$/ha**

Aelton Freitas (PR-MG)
- gleba Carajari – Altamira – 100.000 alqueires - R$ 40.000 - 482.000 - R$ 0,08

Pinotti (PFL-SP)***
- gleba de 3.000 alqueires em Comunata (AM) - R$ 829 - 8.160 - R$ 0,10

Adão Pretto (PT-RS)
- terra com 198.500 m2, adq. por herança em 1971 - R$ 2,92 - 19,8 - R$ 0,15

Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR)
- 1/8 terreno com 6.015 alqueires – Cambé - R$ 3.202 - 14.556 - R$ 0,22

Carlos Bezerra (PMDB-MT)
- área em Paranatinga - R$ 2.776 - 4.600 - R$ 0,60

Wellington Fagundes (PR-MT)
- 50% de terras com balneário em Juscimeira - R$ 69.397 - 58.662 - R$ 1,18
- fazenda Bahia, em Alta Floresta - R$ 6.940 - 509 - R$ 13,6

Ronaldo Caiado (PFL-GO)
- fazenda Escalada em Mara Rosa – 200 alqueires R$ 1.174 - 480 - R$ 2,4
- fazenda Santa Maria em Nova Crixás - R$ 10.562 - 1.120 - R$ 4,8

Celso Maldaner (PMDB-SC)
- lote recebido por doação em 1993 – Tapurah (MT) - R$ 1.944 - 530 - R$ 3,7
- lote no projeto Trairão – São Félix do Xingu (PA) - R$ 66.295 - 2.861 - R$ 23,2

Mário Negromonte (PP-BA)
- fazenda com 3 mil tarefas – Jeremoabo - R$ 5.551 1.305 - R$ 4,3

Colbet Martins (PPS-BA)
- terra em Ruy Barbosa - R$ 193 - 37 - R$ 4,7
- terra em Ruy Barbosa - R$ 2.598 - 208 - R$ 12,4

Roberto Britto (PP-BA)
- imóvel Barra do Ouro – Lafayete Coutinho - R$ 5.413 - 1.105 - R$ 4,9
- imóvel Córrego Fundo – Aiquara R$ 3.331 - 100 - R$ 33,3

Sandro Mabel (PR-GO)
- fazenda Santa Luzia, em Cocalinho (MT) - R$ 54.775 - 9.000 - R$ 6,1

Osvaldo Reis (PMDB-TO)
- lote 1 e 2 na Fazenda Pilões, em Lajeado - R$ 60.000 - 8.000 - R$ 7,5

Nelson Proença (PPS-RS)
- gleba sem benfeitorias - São Félix do Xingu (PA) - R$ 12.683 - 1.385 - R$ 9,15

Gustavo Fruet (PSDB-PR)
- 1/6 imóvel rural – Juruqui Campo Largo - R$ 1.708 - 126 - R$ 13,6

Jader Barbalho (PMDB-PA)
- Registro do Chão Preto - São Domingos do Capim - R$ 11.986 - 750 - R$ 16

Julio César (PFL-PI)
- gleba Brejo dos Cagados – Guadalupe - R$ 2.361 - 149 - R$ 15,9
- gleba Bom Jesus – União Piauí – adq. em 1985 - R$ 8.202 - 198 - R$ 41,4

Geddel Lima (PMDB-BA)
- fazenda Tabajara Brasileira, Potiraguá (c/ irmãos) - R$ 2.599 - 102 - R$ 25,6

Manoel Salviano (PSDB-CE)
- 110 tarefas no sítio Cabeceiras - R$ 1.119 - 40 - R$ 28

José Rocha (PFL-BA)
- fazenda São Lorenço – Coribe - R$ 3.073 90 - R$ 34
- fazenda São Lorenço - R$ 2.500 - 58 - R$ 43,5

José Santana (PR-MG)
- imóvel a 6 km de Bom Jesus do Amparo - R$ 62.700 - 114 - R$ 40

Wellington Roberto (PR-PB)
- imóvel em Baianópolis (BA) - R$ 41.638 - 934 - R$ 44,5

Pedro Fernandes (PTB-MA)
Centro dos Macacos – São Domingos - R$ 18.889 - 400 - R$ 47

*conforme declarações à Justiça Eleitoral
** conforme declarações e cálculo da reportagem
*** alguns deputados estão afastados, principalmente para assumir secretarias de Estado; o critério utilizado no levantamento foi o dos deputados eleitos e que tomaram posse no dia 1º
Aelton Freitas diz que houve erro na declaração: a terra teria somente 1.000 alqueires (4.700 hectares).

Fonte: TSE/APJ
Brasília, capital da elite.

sábado, 17 de fevereiro de 2007

Câmara Bilionária (V)

50 TERRENOS E OUTROS IMÓVEIS POR R$ 22 MIL
Algumas declarações inspiram a tentação de fazer uma oferta de compra aos deputados. Confira:

Deputado - Imóvel* - Valor*
Pedro Henry (PP-MT)
- terreno em Mirassol do Oeste - R$ 16,72
- terreno em Cáceres - R$ 356,90
Fernando de Fabinho (PFL-BA)
- 2 lotes em Vista Alegre – Caldas do Jorro - R$ 277,58
- lote no Loteamento Elizabeth - R$ 377,58
- 13 lotes em Caldas de Cipó - R$ 1.804,31
Wellington Fagundes (PR-MT)
- terreno no loteamento Oásis em Rôo - R$ 277,59
- terreno de 372m2 no Jardim Rondônia - R$ 319,24
- 2 terrenos em Rondonópolis - R$ 416,38
Pinotti (PFL-SP)
- lote na Praia do Léo, em Ubatuba - R$ 357,58
Waldir Neves (PSDB-MS)
- lote no Jardim Noroeste – 360m2 - R$ 400,00
Geraldo Resende (PPS-MS)
- imóvel urbano nº 14, quadra 47 - R$ 449,67
Jader Barbalho (PMDB-PA)
- imóvel na Rod. doMaguary, Ananindeua - R$ 492,41
Bel Mesquita (PMDB-PA)
- 2 lotes urbanos em Parauapebas - R$ 500,00
Gonzaga Patriota (PSB-PE)
- lote em Sertânia - R$ 500,00
Luiz Carlos Setim (PFL-PR)
- lote na quadra 42, planta São Marcos II - R$ 603,28
- lote na plana Atuba, em S. J. dos Pinhais - R$ 828,68
Nelson Bornier (PMDB-RJ)
- lote na Rua Nicarágua, em Nova Iguaçu - R$ 601,13
Carlos Bezerra (PMDB-MT)
- terreno na Vila Lourdes, Rondonópolis - R$ 693,96
Luis Carlos Heinze (PP-RS)
- terreno na R. General Canabarro - R$ 693,98
- terreno no Praia Village Dunas, Sombrio - R$ 693,98
Jurandyr Loureiro (PSC-ES)
- lote no Serramar, Nova Almeida - R$ 696,96
Paulo Piau (PPS-MG)
- lote no bairro Caramuru, Patos de Minas - R$ 707,97
Milton Monti (PR-SP)
- 3 lotes no Jd Bela Vista, em S. Manuel - R$ 2.008,50
Rose de Freitas (PMDB-ES)
- 10 lotes no bairro Soteco, em Guarapari - R$ 8.500,00

* conforme declarado à Justiça Eleitoral

Fonte: TSE

Brasília, capital da elite.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Câmara Bilionária (IV)


Segue trecho da terceira reportagem da série Câmara Bilionária, intitulada "Um mercado imobiliário muito particular":

"Da carência à fartura: em um País com déficit de moradia estimado em 7 milhões de unidades, 503 deputados têm juntos mais de 3 mil imóveis urbanos, no valor de R$ 214 milhões. Mais da metade desses imóveis (1.654) são lotes e terrenos sem construção. A partir dos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a reportagem constatou que há lote declarado por até R$ 16,72. Distribuídos em cidades de 11 Estados brasileiros, 50 desses lotes foram estimados pelos deputados em R$ 22 mil, numa média de R$ 440 cada – valor aproximado de uma televisão de 20 polegadas.

O TSE não forneceu dados sobre 10 dos 513 parlamentares. Foram considerados neste levantamento os deputados que tomaram posse no dia 1º de fevereiro. Esses 503 eleitos possuem 568 apartamentos, 473 casas e 51 prédios, além de 208 imóveis comerciais, 13 barracões e 5 galpões, entre outros especificados apenas como “imóveis”. O apartamento mais caro, segundo a declaração de Carlos Bezera (PMDB- MT), fica na Rua Presidente Marques, em Cuiabá, e custa mais de R$ 15 milhões. Fica no Edifício Fontana di Trevi, nome da fonte romana consagrada pelo filme “La Dolce Vita”, de Fellini.

A série “Câmara Bilionária”, iniciada no domingo, 04 de fevereiro, mostra que os 503 deputados reúnem uma fortuna de R$ 1,25 bilhão, maior que o orçamento anual de Roraima. Os imóveis urbanos são o segundo investimento mais comum entre eles, atrás das empresas e à frente dos imóveis rurais (excluídos os equipamentos agrícolas), do dinheiro guardado ou aplicado (em bancos ou ações) e dos veículos – a reportagem de ontem mostrou que, à exceção do Gol, os modelos mais consumidos por eles são o Pajero, o Corolla e o Hilux.

Pelo Brasil

Cinqüenta e nove imóveis foram estimados em mais de R$ 500 mil cada. Mas entre as residências há três declaradas por menos de R$ 1 mil. O deputado Armando Abílio (PTB), um dos 15 que trocaram de partido antes mesmo da posse, possui 1/3 de casa de R$ 555 em Diamante (PB); Roberto Balestra (PP), 7/8 de uma de R$ 693 em Inhumas (GO); e Manoel Salviano (PSDB), uma estimada em R$ 968, em Juazeiro do Norte (CE). Outras 14 valem menos que R$ 10 mil – pouco mais que o salário líquido dos parlamentares.

Entre os apartamentos a discrepância em relação aos valores de mercado não chega a tanto. Mas há caso de um prédio inteiro declarado por R$ 4,2 mil, pelo deputado Inocêncio de Oliveira (PR-PE). Valores mais altos, porém, também passam longe da realidade observada nas imobiliárias - por mais que nas declarações de bens não seja, desde 1998, necessário fazer alguma correção monetária (isto no caso de imóveis que não tenham recebido algum tipo de benefício).

Assim, na lista dos parlamentares é possível achar mais de um apartamento em Brasília por R$ 30 mil, em regiões onde são vendidos por mais de R$ 300 mil. Por motivos evidentes, a capital federal é o destino mais procurado entre os deputados de outros Estados: são 43 casas e apartamentos declarados, o dobro dos 21 pertencentes aos oito representantes do Distrito Federal. O Rio (na foto) vem em seguida, com 17 imóveis entre os “estrangeiros” e 122 entre os fluminenses.

Mesmo nas praias, sonho de consumo de tanta gente, não é difícil achar lotes por valores irrisórios. Um lote do deputado Pinotti (PFL-SP) na Praia do Léo, em Ubatuba, no condomínio Sertãozinho, foi declarado por R$ 357,28. Em Guarapari (ES), a deputada Rose Freitas (PMDB) possui 10 lotes por R$ 850 cada. Um terreno de 360 m2 na praia de Jacumã, em Conde (PB), está nas mãos do deputado Fernando Ferro (PT-PE) por R$ 6 mil. Outro lote na Praia do Barco, em Osório (RS), foi declarado por Onyx Lorenzoni (PFL) por R$ 2,4 mil.

Outro lado

A assessoria do deputado Carlos Bezerrra informou que houve um erro de digitação na declaração: o apartamento de R$ 15 mil, na verdade, vale R$ 150 mil. O deputado afastado Pinotti, secretário de Ensino Superior do governo José Serra, disse que a defasagem no caso do lote (que fica numa montanha, e não na praia) deve-se ao fato de ter sido comprado em 1983, e pela impossibilidade de se corrigir o valor nas declarações de Imposto de Renda."
Brasília, capital da elite.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Câmara Bilionária (III)


OS CARROS PREFERIDOS
Quantas vezes cada veículo apareceu nas declarações dos deputados

Quantidade - Carro

53 - Gol/ Gol Special
43 - Mitsubish Pajero (na foto)
41 - Toyota Hilux
38 - Toyota Corolla
37 - Palio/ Palio Weekend
25 - Uno/ Uno Mille
24 - Chevrolet S-10
23 - Santana 23
21 - Fiesta
20 - Ford Ranger
20 - Chevrolet D-20
18 - Kombi
17 - Vectra
16 - Ômega
16 - GM Blazer
15 - Mitsubish L200
14 - Corsa
12 - Golf
12 - Astra
12 - Audi
11 - Polo
11 - Clio
11 - Zafira
11 - Ecosport
9 - Xsara Picasso
Fonte: TSE/APJ
Brasília, capital da elite.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Câmara Bilionária (II)

Segue relação dos deputados com aeronaves (4 do PMDB, 3 do PFL, 2 do PP):

Deputado Marca* Valor*

Odílio Balbinotti (PMDB-PR)
Bimotor Beech Airchraft 1988 R$ 5.870.000
Bimotor Piper Cheyenne II 1980 R$ 1.800.000 (na foto)
Avião Agrícola EMB202 2000 R$ 400.000
Avião Agrícola EMB202 2001 R$ 450.000

Geddel Lima (PMDB-BA)
Aeronave Piper Sêneca R$ 210.000

Chico Rodrigues (PFL-RR)
Cesna 182 R$ 110.000

Neudo Campos (PP-RR)
PT-OMY 1980 R$ 97.127

Carlos Bezerra (PMDB-MT)
Beech Aircraft R$ 60.000

Mauro Lopes (PMDB-MG)
Aeronave Sêneca R$ 45.100

Paulo Magalhães (PFL-BA)
Beech Crast Modelo BE-58 R$ 40.000

José Rocha (PFL-BA)
PT-ERC MOD EMB-BLOC R$ 36.738

Pedro Henry (PP-MT)
Aeronave PT-KNL R$ 25.000

* conforme declarado aos TREs

Fonte: TSE
Brasília, capital da elite.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

série: Câmara Bilionária


trecho de reportagem publicada nos veículos da Associação Paulista de Jornais. A série começou no domingo e segue durante oito dias (seguidos ou não).

"A reforma e construção da churrasqueira do deputado Henrique Fontana (PT-RS) custou R$ 21.443, quase 30% do valor de sua casa em Porto Alegre. Alfredo Kaefer (PSDB-PR) possui 89,5 quilos de esmeralda, no valor de R$ 1,7 milhão. Esses são alguns dos detalhes encontrados nas 513 declarações de bens dos novos parlamentares entregues à Justiça Eleitoral.

A reportagem da APJ analisou nos últimos quatro meses essas informações e chegou a números impressionantes. Juntos, os deputados possuem nada menos que R$ 1.246.592.432,81. Uma média de R$ 2,48 milhões para cada um.

Para alimentar a churrasqueira do deputado gaúcho não faltará carne, no que depender de seus colegas do campo. Eles declararam 62,6 mil cabeças de gado, no valor de R$ 2,5 milhões. O número deve ser bem maior, pois vários parlamentares especificaram apenas o valor das reses mais R$ 2,89 milhões, fora caprinos, ovinos, suínos e eqüinos. Somente o deputado Vadão Gomes (PP-SP) declarou R$ 1,43 milhão em bovinos; Juvenil Alves (PT-MG), R$ 1,7 milhão em bovinos e eqüinos.

Toda essa prosperidade prossegue pelas cinco regiões do país. Os números dos deputados são de dar inveja não somente a cidadãos comuns, mas a muitos municípios ou mesmo Estados. O total de R$ 1,25 bilhão entre os parlamentares é superior ao orçamento anual de Roraima: R$ 1,15 bilhão para 391 mil habitantes. O orçamento de Campinas, terceiro município paulista, com 1 milhão de habitantes, é de R$ 1,95 bilhão.

Quase a metade dos bens dos 513 deputados (mais precisamente 503, pois o TSE não divulgou informações sobre dez deles) está em suas empresas: são R$ 580,5 milhões. Em seguida vêm os imóveis urbanos, com R$ 214,2 milhões. Juntos os deputados possuem mais de 3.000 imóveis (568 apartamentos, 473 casas, 1.654 lotes, 208 salas comerciais, 51 prédios inteiros).

Depois aparecem os imóveis rurais, com 180,9 milhões. Gado, plantações e casas estendem-se numa área somada de mais de 500 mil hectares área equivalente ao total de Reservas Particulares do Patrimônio Natural no País. Em quarto lugar aparece o dinheiro, aplicado em bancos, ações ou guardado em casa mais R$ 70,2 milhões. Os carros e outros veículos ficam em quinto lugar, com R$ 48,9 milhões."
Brasília, capital da elite.
Foto: Sônia Baiocchi/Agência Câmara

sábado, 10 de fevereiro de 2007

Por que Clodovil é notícia?

Bem que o novo presidente da Câmara se esforçou. Segundo a “Folha”, Arlindo Chinaglia imprimiu novo ritmo aos trabalhos, acenou com votação próxima do carnaval, ameaçou cortar verba de faltosos. (E não por acaso já foi mal visto pelos colegas...) Mas, em termos de atenção da mídia, nada se comparou, nos primeiros dias de funcionamento do Congresso, à presença marcante do deputado Clodovil Hernandes. Há aí um lado bom e um lado ruim.

O lado ruim não tem muito segredo. Numa Casa machista (como mostra o post abaixo, sobre as poucas deputadas eleitas), ao chegar um costureiro, com trejeitos típicos do anedotário sobre homossexuais, a mídia reproduz o assanhamento dos parlamentares diante do “estranho no ninho”. Quando Clodovil passa no Salão Verde, brotam risinhos, frases maldosas. Aceita-se ainda seu lado “divertido”, mas todos ficam prontos para enquadrar o estranho. Como num colégio.

Sim, Clodovil também é conhecido por “dizer o que pensa” – mas não está aqui a explicação para o interesse da imprensa, pois desde quando ela se interessa pelo que pensam deputados de um partido nanico (PTC) e sem maior projeção política? Claro que há uma combinação de fatores, mas a perseguição de cinegrafistas, fotógrafos e repórteres ao deputado ocorreria igualmente se ele fosse um mitômano.

O lado bom desses holofotes (desproporcionais à sua real representatividade) foi delineado pelo próprio deputado em seu primeiro discurso no plenário. Ele estava certo: seus novos colegas não têm, em sua maioria, educação nenhuma. Agem mesmo como se estivessem num mercado municipal. Ao contrário de parlamentos de outros países, onde ainda se atenta à sobriedade (Clodovil acertou ao perguntar “onde está o decoro”), nossa Câmara não se respeita.

Por ser estranho no ninho, e ousado e vaidoso, o parlamentar (que não deixa também de representar um desejo da sociedade por gente diferente na Câmara), captou de pronto essa distorção. Esse circo. Ao qual estão acostumados todos que ali trabalham – funcionários, jornalistas. Estes, em boa parte, em exercício de mimetismo, reproduzem entre si frases dos parlamentares sobre Clodovil (e desde antes da posse...). “É assim no início. Depois baixa a bola. Ah, ele logo vai ser escanteado, em meio ao cotidiano do plenário e das comissões, e vai sumir”.

No dia da diplomação, em São Paulo, um deputado sério do PSDB paulista, o atual líder do partido Antônio Carlos Pannunzio, comparava os deputados a universitários: “alguns só andam em turma, agem como tais, marcam o ponto como estudantes que assinam a lista e vão embora, há até os que moram juntos, como se fossem repúblicas estudantis”... Clodovil teve um mérito quase artístico ao perceber isso logo no primeiro dia de sessão. E – admitamos – um mérito político ao protestar.

O novo deputado não é exatamente um detentor do bom senso. Foi processado por ter chamado, durante um de seus programas na televisão, a vereadora paulistana Claudete Alves (PT) de “macaca de tailleur”. Agora, demonstrando confusão entre público e privado, anunciou uma reforma em seu gabinete - a ser paga com o próprio dinheiro - que inclui uma cobra naja como base de mesa. E uma cobra chamada “Marta”.

Mas sua posição de franco-atirador já conseguiu uma façanha, numa Câmara viciada. Clodovil calou o plenário e por isso (gostemos ou não dele) entrou para a história parlamentar. Não a história das grandes votações ou conchavos, mas a “história do cotidiano” do Parlamento, a dos gestos e discursos, a comportamental. Sua fala valeu nesse sentido tanto quanto a dança da deputada Ângela Guadagnin, no ano passado. Com a vantagem de, nesse caso, não estar do lado do escárnio.

Note-se que um dos outros três deputados que estão fazendo reformas por conta própria em seus gabinetes, Bispo Rodovalho (PFL-DF) deu outra bola dentro neste início de mandato: tirou as divisórias asfixiantes das saletas (para quem nunca viu, um gabinete parlamentar costuma ser um ambiente apertado, com biombos mal-ajambrados e mesões sub-utilizados), colocando um vidro e uma mesa menor. “O vidro é para que todo mundo se veja no ambiente de trabalho”, disse ele.

Bingo. Divisórias de vidro nos gabinetes também foi uma bela idéia. Transparência já. No plenário e nas comissões sem divisórias, porém, o que se observa tradicionalmente em Brasília é a celebração dos interesses privados. E da falta de transparência. Se Clodovil Hernandes aproveitar seu capital midiático para protestar ciclicamente contra essas promiscuidades (mesmo que não saiba o que é o PAC e que não entenda os lobbies costurados entre cochichos e gargalhadas), terá feito um grande serviço ao País.

À mídia, cabe refletir sobre a frase acima: ora, quem deveria prestar diretamente esse serviço é ela, mídia, não o Clodovil.
Brasília, capital da costura.
foto: J.Batista/Agência Câmara

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Empresas apostam menos em deputadas

Diógenis Santos/Agência Câmara
Deputadas receberam 30% menos doações de campanha que os homens, mostra matéria publicada esta semana no site da Agência Repórter Social:

"A extrema desproporção entre eleição de homens e mulheres na Câmara tem também uma explicação econômica, conforme levantamento feito pela Agência Repórter Social. As 46 deputadas que tomaram posse no dia 1º de fevereiro receberam 30,1% menos doações de campanha que os homens eleitos.

Elas receberam ao todo R$ 16,5 milhões, contra R$ 243,5 milhões dos deputados. A média entre as mulheres foi de R$ 358.289, bem abaixo da média total, R$ 506.822. A média masculina ficou próxima da média total: R$ 512.413 por deputado

Somente três deputadas receberam mais de R$ 1 milhão dos doadores de campanha, conforme os dados apresentados à Justiça Eleitoral: a paulista novata Janete Pietá (PT), com R$ 1,25 milhão, e as goianas reeleitas Íris Rezende (PMDB) e Raquel Teixeira (PSDB), com R$ 1,38 milhão e R$ 1,081 milhão, respectivamente. Tanto Janete como Íris ganharam projeção na política por serem mulheres de políticos: o ex-governador e prefeito de Goiânia Íris Rezende e o prefeito de Guarulhos, Eloi Pietá.

Apenas outra quatro deputadas tiveram entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão para investir na campanha. São elas: Thelma Pimentel (PSDB-MT) - R$ 899.500; Rita Camata (PMDB-ES) - R$ 724.210; Rose de Freitas (PMDB-ES) – R$ 622.342; e Marinha Raupp (PMDB-RO) – R$ 593.269. A deputada eleita com menos verba foi a fluminense Suely Santana (PFL), com apenas R$ 8.620.

Em seguida vêm a cearense Maria Gorete Pereira (PL), com R$ 36.654, Ângela Portela (PTC-RR), com R$ 69.269, Maria Helena Rodrigues (PTC-RR), com R$ 74.490, e Janete Capiberibe (PSB-AP), com R$ 89.626."

Confira no site da Agência Repórter Social a lista das demais deputadas e quanto elas receberam na campanha. A deputada Luiza Erundina (PSB-SP) fala também sobre o tema.

***

A partir desses dados fiz minha coluna de estréia na Netpress, em áudio. Minhas conclusões: "As mulheres são uma aposta secundária das empresas que financiam nossos representantes. Em pleno século 21, há avanços tímidos na questão de gênero: a diferença salarial diminui, já há mais mulheres do que homens na escola... Mas a Câmara ainda não virou o século 20".
***
Brasília, capital do machismo.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

"Folha" corta no social

nos últimos anos os jornais se acostumaram a noticiar cortes orçamentários na área social. Mas a maldição que atinge os governos parece ter afetado a "Folha de S. Paulo". O jornal demitiu a repórter Luciana Constantino, da sucursal de Brasília, especializada na cobertura de temas sociais, como educação e o bolsa-família. Ela tinha 12 anos de casa. Segundo o informativo Jornalistas & Cia, que trata de demissões e contratações de jornalistas pelo País, a "Folha" não irá repor essa vaga - o que não aconteceria se ela cobrisse o Banco Central.

Brasília, capital dos "contingenciamentos".

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

a posse dos deputados


Texto publicado no dia 02 de fevereiro nos veículos da Associação Paulista de Jornais
(sob o título Futuro da Câmara vira tema secundário em meio à festa “popular”) :

"Estendendo uma faixa pelo fim da imunidade parlamentar, como se fosse um manifestante comum, o deputado Paulo Rubem (PT-PE) esforçava-se por chamar a atenção para o futuro da Câmara, pouco antes do início da cerimônia de posse dos novos deputados. “É uma forma de chamar a atenção da sociedade para uma questão que o país precisa resolver”, declarou. Tarefa difícil. Diante da eleição para a presidência e da euforia dos novatos, o clima nesta quinta-feira no Salão Verde era de festa.

Com direito a celebridades eleitas – ou em trânsito. Clodovil Hernandes (PTC-SP) ganhou tantos flashes e perseguição dos repórteres como o candidato à reeleição Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Mas promoveu um burburinho bem maior (risos, sorrisos, comentários maldosos) entre os convidados à cerimônia – assessores parlamentares, mulheres arrumadíssimas, crianças e adolescentes curiosos em seus ternos e gravatas.

Dezenas de deputados tentaram levar seus parentes ao plenário, durante a posse, sem sucesso. O neto do deputado Moreira Mendes (PPS- RO), Enzo, destacava-se, do alto de seus 10 meses, embrulhado e engatinhando num mini-terno. Seu avô (o outro é o governador Ivo Cassol) garante que, “eleito com o compromisso de defesa da ética, da moralização”, lutará pelo voto aberto e pela modificação da imunidade parlamentar. “Na Assembléia em Rondônia todos fizeram o que fizeram, mas conseguem se proteger”.

Enrolado em serpentinas atiradas pela comunidade oriental, William Woo (PSDB-SP) também se declarou contra os privilégios. “Sou totalmente a favor do fim da imunidade no caso de crimes contra o povo”, disse, antes de entrar novamente no plenário, após a cerimônia, para autorizar fotos dos assessores nas cadeiras da Mesa. “A sociedade tem de exigir regime de urgência para esse tema e solicitar voto aberto”.

E a sociedade?


Relator no caso da primeira votação que decidiu pelo voto aberto, José Eduardo Cardozo (PT-SP) ressaltou – pouco antes do deputado cassado Roberto Jefferson andar pelo Salão e atrair bem mais atenção da mídia - a necessidade de pressão popular por mudanças. “Se a opinião publicar não pegar essa questão do voto aberto, não anda”, disse. No caso da imunidade, para ele o ponto é o foro privilegiado. “Se acabar com a imunidade e ele continuar, não muda nada. O Supremo não foi construído para processos desse tipo”.

A constatação de dificuldades na aprovação de temas da reforma política que democratizem os mandatos contrasta com as opiniões declaradas, de deputados de diversos matizes partidários, a favor das mudanças. “Tudo que é privilégio tem de ser tirado”, afirmou, entre vários convidados, Ricardo Izar (PTB), um dos parlamentares paulistas mais antigos, que se destacou como presidente da Comissão de Ética durante o que chama de “a pior legislatura da história”.

Quase todos os parlamentares falam a favor da imunidade, colocando em seguida a ressalva de que ela deve ser mantida no caso do direito à voz – ou seja, eles não podem ser punidos pelo que digam no exercício do mandato. Eunício Oliveira (PMDB-CE), mascando um chiclete, foi o único parlamentar ouvido a dizer já de início que era contra o fim da imunidade, antes de fazer a ressalva inversa. “Se perdermos direito a voz e voto vamos fazer o quê aqui?”

Democracia midiática

Depois de Clodovil e dos presidenciáveis (o tucano Gustavo Fruet, do Paraná, transpirou tanto durante o garimpo de votos que abdicou do paletó no Salão Verde), Frank Aguiar foi o mais assediado, diante de repórteres sorridentes. Para o ex-ministro das Comunicações Eunício, o destaque dado ao deputado-estilista e ao deputado-cantor (cujas eleições ele definiu como “fruto da democracia”) tem um responsável direto: “A culpa é de vocês, da mídia”.

No salão, um grupo de lobbistas de funcionários das agências reguladoras, com camisetas temáticas em belas mulheres, admitia: “É difícil disputar atenção com o Clodovil”. Enquanto isso, no plenário, quando mais nenhum deputado era encontrado no Salão Verde para dar declarações, dezenas de parentes e assessores ainda disputavam o cadeirão da presidência para um registro fotográfico da “festa da democracia”. "
Brasília, capital dos paparazzi.

a saga dos sem-terrinha


Este texto foi produzido após a ocupação da Câmara pelo MLST, em junho de 2006, aquela que resultou numa depredação lamentável e numa inacreditável prisão em massa, inclusive de gente que não tinha participado do ato. Coloco aqui para pré-inaugurar o blog, por considerar ilustrativa do descaso brasiliense - a saga dos sem-terrinha foi solenemente ignorada pela imprensa - e do que é possível observar e fazer de diferente, mesmo quando aparentemente todas as atenções estão voltadas a um determinado tema.


Intitulado "Na saga dos sem-terrinha, um retrato do Brasil", o texto foi publicado pelos veículos da Associação Paulista de Jornais e pelo Jornal do Brasil:


"Esfriava no gramado do Congresso, no fim da tarde de terça-feira em Brasília, e o menino Douglas de Freitas, de apenas cinco meses, era o retrato do país. Nos braços do pai, e ao lado das irmãs Vitória e Ana Carolina, de 4 e 6 anos, ambas com saias e tops curtos nos únicos dias de inverno de Brasília, ele estava enrolado de modo improvisado em alguns panos, cercado de PMs. Sua única sorte era estar no período de amamentação. À 1 hora da quarta-feira, em plena Delegacia da Criança e do Adolescente em Brasília, sob a responsabilidade do Estado, Ana e Vitória ainda não tinham se alimentado, desde a manhã do dia anterior.

A saga dos sem-terrinha detidos pela polícia – dez crianças e 32 adolescentes – mostrou que a irracionalidade no Planalto não se restringiu aos sem-terra do MLST que invadiram o Congresso, depredaram patrimônio público ou agrediram seguranças. Do pôr-do-sol com tintas militares até a madrugada faminta, os “sem-culpa” foram duplamente vítimas: da negligência de pais ou líderes, que os levaram a uma batalha campal em plena sede do Legislativo, ao descaso inclassificável do poder público, em suas várias esferas.

Douglas, Vitória e Ana saíram de Itaderaí (GO), a seis horas da capital. Divino de Freitas, pai dele e padastro das meninas, contou, no fim da tarde, que todos estavam sem comer desde as 4 horas. “No acampamento estamos há quatro meses sem receber cestas básicas”, disse. Filho de um policial militar de Goiás Velho, já falecido, Divino ficou preso no ginásio Nilson Nelson enquanto Divina Sebastiana de Souza acompanhava os três filhos à Delegacia da Criança e do Adolescente.

Desde o fim da tarde, no gramado, as crianças e adolescentes foram tratados indistintamente, em meio aos mais de 500 presos, a mando do deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP). Ficaram no fim da fila, não tiveram ônibus separados, amparo de promotores da infância, assistentes sociais ou atenção da mídia. Ao entrarem nos ônibus da PM, ouviam dos policiais, como todo mundo: “Senta, abaixa a cabeça e põe os braços para a frente”.

Ketlen, com 9 anos e golfinhos desenhados no lenço sobre a cabeça, saiu na manhã da segunda-feira de Açailândia (MA), para chegar às 11 horas da terça. “Trouxe ela porque o sonho dela era conhecer Brasília”, conta a avó, Maria Gorete de Sousa. Para participar da invasão na Câmara, Gorete deixou a menina com uma vizinha. “Estou assustada”, disse Ketlen no início da noite, enquanto os PMs fechavam cada vez mais o cerco sobre os sem-terra, encurralados. “Tenho medo desses policiais”. Se estava gostando de Brasília? “Estava”.

Somente às 20 horas os policiais terminaram a prisão em massa. As crianças foram poupadas de presenciar por muito tempo a cena inédita (não no Chile de Augusto Pinochet, mas no Brasil) de uma multidão amontoada em um ginásio, pois, cerca de duas horas depois, foram com as mães ou responsáveis – mas não os pais, por motivos que ninguém soube explicar - para a delegacia. A assistente social do SOS Criança, do governo distrital, chegou somente às 22h30. “Só fui avisada agora”, disse Ana Alice Carter.

Pouco depois chegava o representante da Justiça, o comissário Eustáquio Coutinho – cerca de sete horas depois do início da confusão, transmitida nacionalmente. Em sua sala, o delegado-chefe José Adão Rezende declarava-se impotente diante do frio e fome das crianças. “Você quer que faça o quê, encomende lanches do McDonalds? Que eu leve todos para o sofá da minha casa?”

Comida de presídio

Do lado de fora da sala estavam amontoados as 13 adolescentes, uma delas grávida, e os 19 rapazes (entre 12 e 17 anos). Eles só saíram à 1h45 da quarta-feira, após prestarem depoimento, em que negavam ter conhecimento de planos para a invasão. “Você ainda deu sorte”, disse depois ao delegado o coronel Weslei Maretti, comandante de toda a operação policial, pelo governo do DF. “Lá no ginásio ninguém quis falar nada”.

Horas antes de os adolescentes serem liberados, o delegado Rezende adiantava que isso ocorreria. Mas era preciso “cumprir as formalidades”. O descumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente prosseguia sem ressalvas, para o desespero de Amarildo Fiorentini, funcionário da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. “Não sei o que fizeram no Congresso, pois estava viajando e vim direto para cá. Mas nunca vi uma coisa absurda dessas. Isso me deixa uma pessoa impotente, que não acredita mais em nada”.

Amarildo viu os adolescentes amontoados no chão da delegacia e as crianças tremendo no ônibus. O presidente da Câmara, Aldo Rebelo, enviou vários funcionários ao local, entre eles a relações públicas Silvia Mergulhão e o coordenador administrativo Pedro Pellegrini, todos com o mesmo discurso do delegado Rezende e de todos os policiais envolvidos. “A culpa é dos pais, que os colocaram nessa situação”.

A ausência de parlamentares só não foi completa porque, no gramado do Congresso, três deputados do Psol (Maninha, do DF, João Alfredo, do Ceará, e Ivan Valente, de São Paulo) e um do PT (Paulo Rubens Santiago, de Pernambuco), acompanhavam a megaprisão. “Só vi algo assim em 1969, quando estudava na UnB e saímos todos de mão para cima, em fila indiana”, contava a deputada Maninha.

A força do anonimato
Na cidade em que 81 senadores alternam diariamente as sessões no plenário com o suculento cafezinho da Casa, os 42 adolescentes e crianças seguiram com fome até a 1 hora, quando finalmente chegou a “quentinha”: arroz, batata, salsicha e farofa, diretamente enviados do presídio da Papuda. “Nenhum outro lugar em Brasília teria 500 quentinhas”, alegaram os representantes da Câmara. “Mas e 42 quentinhas?” – a pergunta ficou sem resposta.

Mergulhão e Pellegrini logo tomaram a iniciativa de distribuir as marmitas. Desistiram, pois estavam quentes demais. Todos decidiram então que se comeria no Guará, na sede do MLST, para onde finalmente mães e crianças foram liberadas. Os adolescentes iriam depois para um abrigo – vários deles sob o risco de por lá ficar, por falta de documentação e presença dos responsáveis em Brasília.

Ao mesmo tempo em que chegava a comida de presidiário, eis que eram finalmente distribuídas roupas – agasalhos, casacos, camisas de manga comprida, moletons. O suficiente, porém, só para abrigar as dez crianças. Diante da curiosidade do repórter pela demora, a surpresa: nada fora enviado pelo SOS Criança. “Somos vizinhos”, declararam os anônimos doadores voluntários. “Vimos a situação no Congresso e decidimos, por causa das crianças, ver o que estava acontecendo”.

Quando o ônibus com as crianças finalmente saiu, acompanhado de uma viatura, cidadãos brasileiros como o bebê Douglas, Vitória, Ana, Ketlen, Jederson (9 anos), Aline (11 anos) dormiam ou olhavam pela janela, entre curiosos e assustados. Mas logo o ônibus teve de parar. Diante do frio, o motorista da viatura não conseguia ligar o motor. A assistente social Ana Carter deu uma larga risada: “Só faltava essa!”

O delegado e o coronel, Mergulhão e Pellegrini ficaram aliviados: o carro acabou pegando no tranco. A transferência dos adolescentes se deu sem problemas – mas com todos tiritando de frio. Um menino de 12 anos, encolhido, preferia cobrir a cabeça para não ser fotografado.

Sempre muito sintética, Ana esclareceu prontamente, ainda que com tom ligeiramente sarcástico, o motivo de o Estado não ter fornecido os agasalhos: “Porque não temos”."
Brasília, capital dos proprietários.